sábado, 15 de junho de 2013
Desancorou...
Sentiu uma falta... uma necessidade de carinho... como quem mergulha lá no fundo e quer voltar para respirar (ainda que não precise)... como uma memória do corpo que se lembra bem de como é bom estar junto... Uma contradição dele, que ao mesmo tempo que tão só, tão sem, tão difícil de chegar ou de encontrar, ao mesmo tempo sempre por milagre encontrou, pôde compartilhar o afeto que transborda em nós e que não podemos guardar, que nos escapa... como a fruta madura que a árvore deixa cair do galho por não poder mais segurar, doa... Acontece que ela não estava ali, não queria estar ali... afastava-se e afastava-se, como a ilha desaparecendo no horizonte quando o navio alcança o alto mar... ela não quisera navegar... doía-lhe sentir o sabor do mar, da amplidão tão grande deste mar, no qual o moço se encontrava... por mais que ela entendesse, soubesse, que quando entramos na água, nos banhamos em todos os oceanos da terra e isso é tudo, isso é tanto, estamos livres, podemos nadar... ela agora prefere o seco, a terra aparentemente firme, aparentemente sólida, aparentemente estável... a água é imprevisível demais, fluída demais, líquida demais... E assim, eles se separaram, aos poucos, como o horizonte... hora podem se ver, mas uma hora não poderão mais... E essa distância de léguas de mar até a terra também doeu... nele. E ele quis voltar... tentar trazer... estendeu a mão, chamou, chamou - vem, vem comigo... simplesmente estar, sem nada mais, sem garantia... flutuar, sem medo de se afogar, pois somos a água... E não veio. Entendeu, ela não vem... não adianta esperar... não se pode esperar... a correnteza nos leva pelo caminho e o fundo do mar é profundo demais para tentar alcançar a âncora... nem mesmo havia âncora naquele navio... um navio feito para navegar, não para esperar... Aprendeu. Dois caminhos então, que não se cruzam mais, não agora... se é isso que quer, apenas aceitar o movimento e seguir com ele pode... aprendeu... a não se pesar, não se apertar... a não sentir falta... (muitas faltas ainda precisará sentir), mas, ao contrário, ser feliz por que tudo é, está sendo e segue sendo... aprendeu muito e segue aprendendo... e no mar agora vive, um mar tão grande e tão vivo que com tudo nos relacionamos... um mar que nunca para, sempre em ondas, que sobem, descem, que a todas as praias banha, molha, descobre... que em toda parte chove, evapora, troveja... um mar de encontros... de azul de céu e de profundeza abissal...
Unravel - Björk - para aprofundar...
Call it fate, call it karma - The Strokes - para flutuar...
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