quarta-feira, 12 de junho de 2013

Manifesto da Saudade



Tudo que somos é uma integração desintegrada de todas as partes
Aglomerados de infinitos luminosos e desinfinitos obscuros
Temos medo de nós mesmos, pois nos sentimos desconhecidos
Temos medo do outro, pois nos parece semelhante
Nos identificamos em tudo, mas não estamos em nada
Nos perdemos em tudo, mas vamos encontrando A Alma
Nos desesperamos com o mundo, sem perder a calma...

A cada segundo decifro-me - agora: uma tênue linha de invisível estar com quem comigo é perto de mim ainda que indo ou longe... há pouco: descendo ladeira abaixo porque o fundo nos atrai com sua força subtérrea para voltar a ser alimento da terra... antes: uma guerrilha entre o frio de ausências e distâncias e chuvas e vazios que nos quer quietos, escondidos, em baixo das cobertas, e o ímpeto do movimento que nos chama a realizar o que sonhamos ou ousamos querer... anteriormente: um balão subindo e descendo com calores em combustão em rodopios por ventos e céus que escrevem palavras atmosféricas que respiramos para não perder o ar... durante: o difícil mútuo aprendizado de viver e sentir e amar e cuidar uns dos outros sem sermos uns dos outros, mas, ao contrário, livremente com o outro, estando porque queremos estar, não porque precisamos... depois: sentindo que a falta que faz é também parte, é gosto, é sentido, é compreender, é descobrir novos caminhos para onde se vai... nossas faltas, saudadeantes, também nos definem... também nos impulsionam para o ser, para dentro, para fora... a fome que mastiga o interior do espírito... quero-te, saudade, não fujo de ti. És como o ar, entre tudo que está junto, mas se engana ao pensar que não... Respiro-te, inflando os laços que fazem desaparecer o "eu" e o "tu"...

Uma música - Olha pra mim - Arnaldo Antunes

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