segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
Rodopiando...
Triste, feliz, espaçoso, apertado, alegre, cansado, novo, velho, saltitante, pesado, amoroso, sangrado, saudável, roído... Hoje me sinto de tantos jeitos, tantas emoções em conflito, sensações em contrastes, choques de estados de ser... confuso ainda que organizado, perdido, ainda que caminhando numa direção... Vazio e repleto, cheio e seco... melancólico e extrovertido...
angustiado, fato...
faltando, fato... ou faltante...
Imagem: Jorge Rodríguez-Gerardo
Música - As nuvens - Nana
domingo, 26 de janeiro de 2014
Sentido
Palavras pra quê, quando os olhos tem tudo a dizer? Ver a luz do dia ir dormir, lentamente, deitado olhando para você, para a brancura do teto, para o azul clarinho da janela. Que pensar quando apenas deixa-se ir? Quando a intuição guia todos os gestos. Abandonando qualquer temor ou insegurança, o teu colo perfumado suspende o tempo e o faz dançar. Presença - envolve, acolhe, anima, cuida, alimenta. Gesto - escreve, tece, aquece, alegra. Jeito - flui, faz, encanta e desanuvia... Tão pouco, mas tanto... tão rápido, mas gostosamente demorado... viver o sopro morno do inesperado... viver a seiva pura do sentido...
Manhã - Nana - para deitar
Imagem: Juan Francisco Casas
sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
A cor
Ver-te que te quero ver-te
Azul é a cor mais gente
Amar elo entre os seres
Lá Anja dos prazeres
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
vo-ou
às vezes a gente não sabe quando as pessoas estão indo embora.
um dia, elas simplesmente foram...
e simplesmente foi-se...
quem sabe não era óbvio, ou não, devia ser visível, ou não,
mas simplesmente não vimos nada...
nem imaginávamos que naquele instante tanto se passava
que a gente ignorava, enquanto a gente despercebia...
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
Entrando-se...
AUSÊNCIA
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade
Escreve nas folhas brancas cada detalhe dos dias passados, dos planos, dos quereres, do porvir... Registra, marcando em si a verdade de cada ato, gesto, sensação e impressão na pele da vida. Olha para a parede em frente, para as pessoas sentadas ao redor, para o som do mundo que passa, diante de si, enquanto ele para por um instante, enquanto ele ainda digere os idos e avalia melhor o que está por vir... Deixa passar um pouco de mundo sem ele... ausente por um momento, um momento guardado para si... Distante, ele vislumbra os quens, os comos, os porquês de tudo, cujas respostas justificam, implicam ou significam seu eu naquele dia e a cada dia novamente. Quieto. Os pensamentos às vezes calam, deixam o ar flutuar sem interrupção, sem distorção de tantas imprecisões interiores. As palavras também calam, abrindo caminho livre para aquelas imagens sentidas que cruzam o dentro e o fora, o que ele vê e o que ele sente. Toma-lhe um estranhamento generalizado com tudo, suspeitando, achando graça ou simples absurdo tudo que é, tudo que foi... Como pode ter sido assim? Como posso ter sentido isso? Eu era mesmo esse? E, desconcertado por esses surtos de desconcerto, refaz-se, reorganizando o que lhe é comum e o que lhe soa extraordinário, o que é pura ilusão delirante e o que de fato era real, foi concreto, e já não é... o que ainda é... o que existe e o que não mais... Volta-se novamente para sua agenda, livro sagrado, e estrutura-se no tempo e no espaço, tornando-se minimamente visível diante de si, compreensível, representável... Ver-se e entender-se é condição mínima do ser... ainda que sempre inconclusas, são ações necessárias, sempre que a inquietação surpreender, que o mundo parecer se desfazer, que o eu mostrar-se fora de si...
Nana - Passarinho - delirando...
Nana - Passarinho - delirando...
sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
"Ditos Diários" VI
Terça, 16:33
Sentada no quadro da bicicleta, enquanto pedalo pela trilha de pedras vermelhas diante do mar, o vento em nosso rosto, teus cabelos dançando na minha boca e brincando com meu nariz. Seguras no guidão para equilibrar-se, enquanto meus braços envolvem seus ombros. Vez-e-outra me olhas, me fixas em tuas pupilas castanhas de morrer, me desconcentrando e me esquecendo de pedalar, deixando a inércia do tempo suspenso do teu olhar levar-nos ladeira abaixo em uma atração mais forte que a gravidade. Pedala, moço, voa, segue aquelas gaivotas, aponta com tua mão clara, teus dedos de doce de leite, que eu quero descobrir o segredo do céu quando dorme com o mar. Sorri de teus absurdos que me enchem de graça, sapeca, fazes de propósito, queres me ver de bochechas doídas de tanto sorrir de ti, por ti. Na ladeira, sopras em meu pescoço, para aplacar o calor e o esforço. Enches meus balões com teu ar quente, percorrendo as veias e empurrando os músculos para o alto. Maldosa, ora largas a dianteira da bicicleta e segura-se nos meus ombros, envolvendo meu pescoço com um magnetismo hiperestésico e taquicardíaco. Tu sabes que assim eu não terei escolha senão inclinar-me até teus lábios. Olhos fechados. E o sonho guiando.
O céu de estocolmo - Nana - para sentir a brisa
Sentada no quadro da bicicleta, enquanto pedalo pela trilha de pedras vermelhas diante do mar, o vento em nosso rosto, teus cabelos dançando na minha boca e brincando com meu nariz. Seguras no guidão para equilibrar-se, enquanto meus braços envolvem seus ombros. Vez-e-outra me olhas, me fixas em tuas pupilas castanhas de morrer, me desconcentrando e me esquecendo de pedalar, deixando a inércia do tempo suspenso do teu olhar levar-nos ladeira abaixo em uma atração mais forte que a gravidade. Pedala, moço, voa, segue aquelas gaivotas, aponta com tua mão clara, teus dedos de doce de leite, que eu quero descobrir o segredo do céu quando dorme com o mar. Sorri de teus absurdos que me enchem de graça, sapeca, fazes de propósito, queres me ver de bochechas doídas de tanto sorrir de ti, por ti. Na ladeira, sopras em meu pescoço, para aplacar o calor e o esforço. Enches meus balões com teu ar quente, percorrendo as veias e empurrando os músculos para o alto. Maldosa, ora largas a dianteira da bicicleta e segura-se nos meus ombros, envolvendo meu pescoço com um magnetismo hiperestésico e taquicardíaco. Tu sabes que assim eu não terei escolha senão inclinar-me até teus lábios. Olhos fechados. E o sonho guiando.
O céu de estocolmo - Nana - para sentir a brisa
quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
sussurros...
Tu me contas tua vida como quem se despe... sem medos, inseguranças ou desconfianças, ousas, destemes, alegra-se em fazer-me parte de ti a cada história, causo, memória, invenção submersa do inconsciente que desvela tu a cada instante de ser... Não importa o local, o horário ou dia da semana, nos perdemos nessas conversas inteiras, intensas, intrínsecas, caminhando por parques, deitando na grama, roçando na areia da praia ou debaixo da sombra de uma mangueira, derramados num banquinho, numa mesa de barzinho-bistrô gostoso e aconchegante, na tua cama, no chão, no tapete, na plena escuridão ou no amanhecer... Não importa o dia seguinte, o por-fazer, tudo a gente faz no meio dessa conversa boa demais... perto e até mesmo distante, entre mensagens, cartas, telepatias, ou sussurros, mordiscar de orelhas, beijos mornos ou ferventes, silêncios de universos nascendo, de estalar da flor, de burburinho de chuva, de respiração e coração batendo... Tu me contas, tu me chegas, tu me apertas bem junto, de corpo e alma...
Baila - Onda Vaga - bailando...
Baila - Onda Vaga - bailando...
domingo, 12 de janeiro de 2014
Gesto
O simples gesto de olhar tem uma dimensão inimaginável de beleza... Demorar-se olhando, cada detalhe, cada sentimento contido na linha, na forma e no jeito de ser da tua boca, do teu sorriso, de teu nariz, a silhueta de teu rosto, a brincadeira de teus cabelos quando olhas para mim... O simples gesto de cruzar olhares pode estabelecer laços mágicos que atraem, pulsam, vibram nervos e subterrâneos do ser, pode incandescer o âmago e florescer o onírico... O simples gesto de conviver, cruzando momentos um do outro, pode faíscar vontades, seja de palavras, de histórias, de revelar um pouco mais quem somos para o outro e para nós mesmos... O simples gesto de existir nos faz estar aqui, contigo, comigo, com-tudo...
Crazy - Au Revoir Simone - porque fico doido...
Imagem: Jorge Rodriguez Gerada
sexta-feira, 10 de janeiro de 2014
Faz o mundo mais bonito...
Tempo que não basta, espaço que separa, dúvidas e encruzilhadas... Viver o que se quer viver, o que precisamos viver, para além dos impossíveis... o que está diante... o que nos leva adiante... Sem calcular demais ou esperar demais, sem ilusão nenhuma, apenas o bem-estar-querer que há... O que faz bem nos acolhe e cuida... bem nos ajuda a ser... Alimento a poesia que existe nas relações... cultivo a beleza que existe no encontro... Desperto o que podemos crescer na partilha de nós... Se é bom, é bom... Se é bonito, é bonito...
Instant Crush - Daft Punk ft. Julian Casablancas - para agora...
Imagem: música Brindo - Devendra Banhart
quinta-feira, 9 de janeiro de 2014
"Ditos Diários" V
Segunda-feira, 17:05
Cabeça repousada em teu colo sereno, coxas nuas pele macia, com uma mão acaricio teus pés, brinco e massageio teus dedinhos, o tornozelo e subindo... Com a outra mão seguro um livro... teu... meu... que leio em voz alta para que tu ouças e vejas e sintas o horizonte das palavras. Ouvir a voz que lê significa liberar a mente do código e repousar apenas no símbolo, no mágico que a linguagem derrama sobre o corpo e a alma. Ler para você ouvir me faz sentir empinando uma pipa, alçando-te em voos em que te acompanho. Minhas pernas não sabem como pôr-se... cruzam-se, dobram-se, estendem-se, lembram-se das suas... E minha palpitação acompanha o movimento de teus dedos nos meus cabelos... Ler contigo transcende o simples ato de ler... porque tua presença, teu olhar sobre o mundo, as ideias que se remexem em teu interior sacodem os sentidos que o texto tem sobre mim... O texto ganha a forma dos teus olhos, a sutileza de tuas orelhas, a excitação de teu pescoço, a surpresa de tua vivência... - Menina bonita do laço de fita, me explica o que você entende quando ele fala dos nossos medos e necessidades mais íntimas, de dentro... Ela por um instante pensa, matura o silêncio e olhando-o nos olhos derrama-se sobre ele, envolvendo-o com seus cabelos curtinhos e cheirosos... e conta no ouvido um segredo que supera um medo e expressa sua vontade dele... Necessidade é algo que temos conosco... que transformamos em vontades para com os outros...
Wild and Distant Shore - Michael Nyman - revivendo...
Cabeça repousada em teu colo sereno, coxas nuas pele macia, com uma mão acaricio teus pés, brinco e massageio teus dedinhos, o tornozelo e subindo... Com a outra mão seguro um livro... teu... meu... que leio em voz alta para que tu ouças e vejas e sintas o horizonte das palavras. Ouvir a voz que lê significa liberar a mente do código e repousar apenas no símbolo, no mágico que a linguagem derrama sobre o corpo e a alma. Ler para você ouvir me faz sentir empinando uma pipa, alçando-te em voos em que te acompanho. Minhas pernas não sabem como pôr-se... cruzam-se, dobram-se, estendem-se, lembram-se das suas... E minha palpitação acompanha o movimento de teus dedos nos meus cabelos... Ler contigo transcende o simples ato de ler... porque tua presença, teu olhar sobre o mundo, as ideias que se remexem em teu interior sacodem os sentidos que o texto tem sobre mim... O texto ganha a forma dos teus olhos, a sutileza de tuas orelhas, a excitação de teu pescoço, a surpresa de tua vivência... - Menina bonita do laço de fita, me explica o que você entende quando ele fala dos nossos medos e necessidades mais íntimas, de dentro... Ela por um instante pensa, matura o silêncio e olhando-o nos olhos derrama-se sobre ele, envolvendo-o com seus cabelos curtinhos e cheirosos... e conta no ouvido um segredo que supera um medo e expressa sua vontade dele... Necessidade é algo que temos conosco... que transformamos em vontades para com os outros...
Wild and Distant Shore - Michael Nyman - revivendo...
quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
"Ditos Diários" IV
Quarta-feira, 14:13
Danço em ti, dançando comigo, numa conversa sem palavras, mas sons, ritmos e movimentos. Esse encontro de corpos inteiros que deixam-se viver, conviver, entreviver... Tua ginga enuncia meu encanto; Meus ombros e quadris guiam tua fé... Olhos ora fechados pelo transe ora abertos pela transa nos encontramos nessa esquina do universo no meio da sala de sua casa, que visito, que chego, que repleto. A canção descoberta das montanhas distantes e olvidadas, eletrônico, castelhano, continental, transpassando nossas cordilheiras emocionais, enamoradas, (in)conscientes... Corpos se tocam, se distanciam, mexem-se em formas caóticas e magnéticas, iluminantes e despistando qualquer tentativa de padrão, de controle... livres, corpos, encostam-se, roçam-se peles, mãos unem-se aqui e ali, como rios e mares e cascatas que despencam e acolhem-se... tão perto, posso sentir tua respiração em meu pescoço e tu a minha... tão perto, cada gesto me conta sua história que se aninhará em meu corpo sem traduzir-se em palavras, mas permanecerá marcada como flores do campo pós-incêndios... O céu ultrapassa as janelas acortinadas lilás, trazendo inúmeras luzes, fragâncias, matizes de cores de todo um dia, que passa sem que cessemos a dança... Quietos ou eufóricos, tudo que fazemos dança... Tudo, até o silêncio... que enfim se faz no cômodo espaçoso, tapete macio no chão, pouco ao redor em cores pastéis tranquilas, pontilhadas de pequenos e suaves e graciosos detalhes de teu jeito de ser... No silêncio, enfim... sem mais nada entre nós...
"
Si, estoy diciendo lo que tengo que decir,
así, es el camino y lo tengo que seguir.
Que bonito es el camino que ahora andamos caminado
como si fuera el destino tu vas comunicand...
"
Lo que tengo que decir - Bomba Estereo - essa dança
Danço em ti, dançando comigo, numa conversa sem palavras, mas sons, ritmos e movimentos. Esse encontro de corpos inteiros que deixam-se viver, conviver, entreviver... Tua ginga enuncia meu encanto; Meus ombros e quadris guiam tua fé... Olhos ora fechados pelo transe ora abertos pela transa nos encontramos nessa esquina do universo no meio da sala de sua casa, que visito, que chego, que repleto. A canção descoberta das montanhas distantes e olvidadas, eletrônico, castelhano, continental, transpassando nossas cordilheiras emocionais, enamoradas, (in)conscientes... Corpos se tocam, se distanciam, mexem-se em formas caóticas e magnéticas, iluminantes e despistando qualquer tentativa de padrão, de controle... livres, corpos, encostam-se, roçam-se peles, mãos unem-se aqui e ali, como rios e mares e cascatas que despencam e acolhem-se... tão perto, posso sentir tua respiração em meu pescoço e tu a minha... tão perto, cada gesto me conta sua história que se aninhará em meu corpo sem traduzir-se em palavras, mas permanecerá marcada como flores do campo pós-incêndios... O céu ultrapassa as janelas acortinadas lilás, trazendo inúmeras luzes, fragâncias, matizes de cores de todo um dia, que passa sem que cessemos a dança... Quietos ou eufóricos, tudo que fazemos dança... Tudo, até o silêncio... que enfim se faz no cômodo espaçoso, tapete macio no chão, pouco ao redor em cores pastéis tranquilas, pontilhadas de pequenos e suaves e graciosos detalhes de teu jeito de ser... No silêncio, enfim... sem mais nada entre nós...
"
Si, estoy diciendo lo que tengo que decir,
así, es el camino y lo tengo que seguir.
Que bonito es el camino que ahora andamos caminado
como si fuera el destino tu vas comunicand...
"
Lo que tengo que decir - Bomba Estereo - essa dança
sábado, 4 de janeiro de 2014
"Ditos Diários" III
Olho para o teto, para a janela, para as paredes, os livros enfileirados, a poeira inofensiva, a rede pendurada, as velas intermináveis, as cores e rabiscos, as palavras escritas, o ar que preenche esse espaço... Olho para você ao meu lado, lado a lado... envolvidos pela música quente, pelo som perto, pelo ritmo junto... olho para você me olhando, me vendo, me encontrando a cada piscar de olhos... rodeados pelo vento do ventilador, pelo cheiro do perfume do corpo, da pele, do poro, pelos cabelos um d´outro, pela pele nua e só... olho para você me sentindo, sendo comigo, tão você e tão eu que assim, desta maneira própria de cada um, tão nós... O colchão não nos sustenta, insustentáveis. O tempo não nos resiste, irresistíveis. O sol não tarda, porque a noite não basta para estar conosco...
The Softest Voice - Animal Collective - uma dorga...
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