AUSÊNCIA
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade
Escreve nas folhas brancas cada detalhe dos dias passados, dos planos, dos quereres, do porvir... Registra, marcando em si a verdade de cada ato, gesto, sensação e impressão na pele da vida. Olha para a parede em frente, para as pessoas sentadas ao redor, para o som do mundo que passa, diante de si, enquanto ele para por um instante, enquanto ele ainda digere os idos e avalia melhor o que está por vir... Deixa passar um pouco de mundo sem ele... ausente por um momento, um momento guardado para si... Distante, ele vislumbra os quens, os comos, os porquês de tudo, cujas respostas justificam, implicam ou significam seu eu naquele dia e a cada dia novamente. Quieto. Os pensamentos às vezes calam, deixam o ar flutuar sem interrupção, sem distorção de tantas imprecisões interiores. As palavras também calam, abrindo caminho livre para aquelas imagens sentidas que cruzam o dentro e o fora, o que ele vê e o que ele sente. Toma-lhe um estranhamento generalizado com tudo, suspeitando, achando graça ou simples absurdo tudo que é, tudo que foi... Como pode ter sido assim? Como posso ter sentido isso? Eu era mesmo esse? E, desconcertado por esses surtos de desconcerto, refaz-se, reorganizando o que lhe é comum e o que lhe soa extraordinário, o que é pura ilusão delirante e o que de fato era real, foi concreto, e já não é... o que ainda é... o que existe e o que não mais... Volta-se novamente para sua agenda, livro sagrado, e estrutura-se no tempo e no espaço, tornando-se minimamente visível diante de si, compreensível, representável... Ver-se e entender-se é condição mínima do ser... ainda que sempre inconclusas, são ações necessárias, sempre que a inquietação surpreender, que o mundo parecer se desfazer, que o eu mostrar-se fora de si...
Nana - Passarinho - delirando...
Nana - Passarinho - delirando...
Um comentário:
Gostei do que li!
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