segunda-feira, 7 de dezembro de 2015
Meias negras
Blusinha preta de alcinha, shorte curto, pernas negras em meias rasgadas, cabelo vasto como nebulosas de cachos, ombros suaves, ninhos de tempestades. Deixas cair uma alcinha, desnudando um ombro como quem joga açúcar nas chamas vivas tornando-as um brilho azul no meu desejo. Seguro tua mão, leve na minha, sinto a delicadeza e ao mesmo tempo potência dos teus dedos, da tua pele. Subo escalando teus braços, desbravando cada um dos teus pelinhos, tuas cicatrizes, sinais, marcas, sensíveis, linhas, formas, cores. Beijo-te e mordo-te os ombros, não resisto. Tua pele me grita, me exige dedicação, me demanda carinhos quase dolorosos tamanho tesão. Abraço-te, envolvendo tuas costas com minhas mãos. Estás sem sutiã. Teus seios duros encostam no meu peito, cortando-me. Roçam em mim enquanto começamos a dançar muito lentamente uma música silenciosa. Tua blusa começa a subir, e levantas os braços para deixá-la alçar voo. Teus mamilos ameaçadores apontam para mim como acusando-me de eriçá-los. Como gatas selvagens, eles rosnam e tremem em prontidão, chamando-me para a luta. Mas eu provoco. Escondo-me no teu pescoço, refugio-me nas tuas orelhas, mordiscando tua nuca até que teu corpo todo seja tomado de espasmos. E tuas unhas se cravem nas minhas costas, e tuas pernas pulem sobre minha cintura, apertando-me, e nossos corpos se pressionem contra a parede, e eu enfim me derrame sobre teus seios desesperados, desesperado. Tiro teu shorte e você se vira, apontando-me teu bumbum incendiário. Te penetro então suavemente, mas logo se torna impossível desacelerar, nossos gemidos tomam conta do corredor, nosso suor mancha as paredes, minhas mãos rasgam tuas meias negras, vislumbrando ante meus dedos tuas coxas grossas e deliciosas. Nos jogamos no chão, sobre as almofadas, e tu me dominas, envolvendo-me, sentada sobre meu desejo infinito. Danças, rebolas, enlouqueces, teu quadril quer partir-me ao meio, esmagar-me, mas pelo contrário, eleva-me, alça-me, faz-me delirar... te jogo contra o chão, abro tuas pernas e devoro então toda euforia que escorre por entre suas pernas, que escapam de tua buceta avermelhada de ousadia, de alegria, de folia. Te lambo, te chupo, te sugo, te bebo, minha língua brinca de descobrir como aumentar teus gemidos, o descontrole das tuas pernas e bunda que tremem nas minhas mãos. Concentro-me nos teus pontos mais frágeis, mais sensíveis, e sinto teu ser desmanchar-se na minha boca. Levanto-me novamente, seguro tuas pernas para o alto, cruzadas, teus dedos dos pés duros de tesão, e penetro novamente, arrancando os últimos suspiros, levando-te a uma febre feroz, transloucada. Tuas coxas e panturrilhas estão marcadas por minhas unhas, que romperam rasgos nas meias pretas. Nosso gozo explode numa tormenta, e jogo-me nos teus braços, beijando-te os seios, mordendo-te os lábios.
Quero-te mais. E novamente. Te viro com a bunda empinada para mim e recomeço...
Video Games - Lana Del Rey - para senti-la...
Cont´a(fe)tos
A vida flui...
E vamos fluindo com a vida, nos jogando, nos deixando, nos soltando, aceitando a vida que vem e que vai...
A vida nos traz flores do alto das montanhas, riacho abaixo, navegando pelas águas de degelo do inverno, e nós calmamente brincamos com as pétalas flutuantes, subimos nelas como embarcações mágicas, temos bons passeios, e sem nem percebermos, fomos deixados nas margens, para novas apreciações, outras passagens...
E assim segue...
Aprendendo a lidar com a chuva que cai e tão ligeira como veio, evapora...
Aprendendo a vivenciar cada um dos infinitos contatos que a vida nos proporciona, contatos inusitados, contatos surpreendentes, bonitos, mas ligeiros, frágeis, fugidios, que nos confundem, nos deixam tontos, como ao girarmos infinitamente e parando bruscamente.
Nem todo contato se tornará relação, nem todo afeto se aprofundará, nem toda semente dá, mas a gente se permitiu viver, se jogou na terra, se jogou no ar, se jogou no mar, e sai sempre mais, ainda que às vezes sem...
Blue Jeans - Lana Del Rey
quinta-feira, 26 de novembro de 2015
#AmigoSecreto
Todas as pessoas que eu amei, amo e vier a amar, ou simplesmente me relacionei, me relaciono ou vier a me relacionar:
Eu fui socializado como homem, eu fui ensinado pelo machismo, o patriarcado e demais ideologias dominantes milhares de coisas que às vezes nem tenha consciência ou percepção. Por mais que eu te ame, te queira bem, queira te fazer bem, queira te cuidar, queira contribuir com sua vida, sua autonomia, sua liberdade, seu crescimento, sua emancipação, seu embelezamento do ser e estar, por mais que eu questione, problematize, desconstrua e transforme em mim essa carga histórica, cultural e psicológica do machismo, patriarcado e demais ideologias dominantes, mesmo assim, com tudo isso, alguma coisa ruim pode acontecer, eu posso cometer algum erro, fazer algum gesto sem me dar conta, e te magoar de alguma forma, te causar um sofrimento que eu não queria e vamos ambos sofrer com isso por muito tempo, pra não dizer enquanto nossas memórias existirem.
Sendo assim, diante dessa compreensão súbita, me entristeço de antemão, percebo com muito pesar e infelicidade este peso trágico, histórico, horrível que carrego por ter nascido homem (por mais que hoje e cada dia mais tenha repulsa, desagrado, não me identifique em nada e seja qualquer coisa menos um homem, sou uma pessoa, sou um ser em movimento, sou o nada, sei lá) pois sei que provavelmente irei te magoar, te causar algum sofrimento e peço perdão desde já. Não foi minha intenção, fico muito triste por tudo e tenho a profunda necessidade de transformar tudo isso, essa realidade cruel e violenta, esse mundo escroto e maldito, para que um dia, quem sabe, possamos viver num mundo onde todas sejamos pessoas, sem relações de poder, opressão e violência.
Imagem: Mariana Caldas
quarta-feira, 25 de novembro de 2015
Amor em Toda Ação: Notas sobre Relações de Amor Profundo
O amor é como a água. Abundante, sustenta e floresce a vida, fluido, em movimento, transborda, transpira, transforma, chove, cai, molha, arde, inunda, sacia, alegra, embeleza...
O que significa se relacionar? Como estabelecemos nosso estar no mundo entre todos os seres vivos? O que queremos com essas relações? Por que estabelecemos estas relações?
Eu brinco que eu tenho uma personalidade antisocial altamente sociável. Isso porque gosto muito de estar só, de fazer minhas coisas, pensar sobre a vida, rir só, cuidar de mim, ouvir música, dançar, cuidar do jardim, criar, escrever, dormir, tomar banho, sentir-me comigo. Mas ao mesmo tempo tenho muito prazer em conviver com pessoas queridas, pessoas com quem aprendo, cresço, compartilho e para quem me doo, me dou e com elas me sinto bem. Minha casa e minha vida vivem cheias de gente. Adoro cozinhar junto, papear, cuidar do jardim, dormir fazendo cafuné, ver filme, fazer massagem, tomar banho junto, amo aprender com as outras pessoas, desde coisas simples que resolvem problemas bobos do dia-a-dia até histórias de vida e visões de mundo que me provocam e transformam profundamente, e adoro compartilhar qualquer coisa que eu saiba ou que seja importante para mim com todas as pessoas.
E eu amo muito. As pessoas, suas histórias, a vida, plantas, sabores, comida, arte, fazer as coisas com as minhas mãos, minha intuição, aprender e ensinar. Há muito tempo venho refletindo sobre o que significa viver o amor. Libertar o amor para todas as situações, não só as relações afetivas-conjugais-sexuais. Libertar o amor para todas as pessoas, não só aquelas que nos despertam atração e tesão. Libertar o amor para tudo que existe, não só os seres humanos e a cultura humana.
Isso significa nos transbordarmos sem medo, impregnando nossos gestos de carinho e cuidado em tudo que fazemos com quem quer que seja, pessoa próxima ou distante, conhecida ou desconhecida, humana ou não. Como seria tratar alguém sentada ao nosso lado e com quem começamos a conversar no ônibus com a mesma atenção e dedicação que temos para com alguém que nos acompanha há anos e que confiamos? O que significa respeitar alguém que acabamos de conhecer na rua com a mesma intensidade que respeitamos alguém que admiramos profundamente? O que significa cuidar de tudo que nos cerca com a mesma profundidade que gostamos de ser cuidados quando não estamos bem?
É isso que tenho tentando experimentar, praticar, aplicar, vivenciar intensamente. Fazer com que todo abraço seja sincero, demorado, entregue, caloroso. Que todo olhar busque de fato enxergar o que está diante de nós, percebendo profundamente, com atenção. Que todo ouvir realmente se permita ouvir, assimilar o que está sendo dito, refletir sobre o que a pessoa está me dizendo, compartilhando comigo, me expressando naquele exato momento e não sobre o que eu penso/julgo/critico sobre o que a pessoa me diz. Que todo gesto e toque tenha bem-querer, respeito, sincera preocupação com o espaço da outra pessoa, de modo a não invadi-lo, mas também sem medo de expressar afeto com a pele, numa massagem, num beijo, num acariciar os cabelos, num segurar as mãos ou cruzar as pernas.
Amor em toda ação requer um maior esforço, sim, do que estamos acostumados. Pois aprendemos com este mundo odioso a indiferença com o que nos cerca, o descaso pela vida, o desamor pelas pessoas e demais seres, o medo da outra e do diferente, o utilitarismo nas relações e as relações de poder, o machismo, o racismo, as outrofobias, os latifúndios e monoculturas afetivas, a mediocridade no viver mesmo, que nos aprisiona num viver mesquinho, pouco, vácuo, insensível, frio, árido, insípido, devastado, violentado e violento até... E tudo isso drena e esgota nossas forças.
Mas não é nenhum esforço sobrehumano. E quando vamos aos poucos nos libertando, problematizando e nos desfazendo de todas essas correntes, prisões, grilhões, bolas de ferro, focinheiras, ideologias dominantes, máscaras, mentiras, de repente amar se torna fácil, fluido, leve, simples. De repente nossa potência afetiva e emocional se fortalecem e superamos a atrofia a que fomos submetidas.
Afetar e nos deixarmos afetar. Afetuosidade vívida, ativa, brilhante, criativa, tranquila, humilde, despretensiosa, destemida, desfrutada. No cuidado das plantas, de todos os seres, da vida, da Terra, de si mesmo, da energia do universo, do tempo, do presente e das presenças.
Amar além, Amar em toda ação.
Me deixa amor - Lariza Xavier - para inspirar
domingo, 15 de novembro de 2015
Tudo ao ver você partir
Caracóis voam nos meus olhos
Felinos sobem pelos meus pelos
Libélulas ziguezagueiam as minhas pernas
Enquanto pássaros apertam o meu ar
Zebras embaralham minhas cores
Vagalumes aceleram meu pulsar
Vendavais de violetas me excitam
Tudo ao ver você chegar...
15/05/15
01:04
Evitar
Uma confiança intensa
como se diante do inevitável
Ou um querer que não aceita mais
ser guardado
Acontece que esse sentir parece tão simples e claro,
brilhante e doce
que merece essa entrega,
esse arriscar a ser
o que será.
15/05/15
00h57
como se diante do inevitável
Ou um querer que não aceita mais
ser guardado
Acontece que esse sentir parece tão simples e claro,
brilhante e doce
que merece essa entrega,
esse arriscar a ser
o que será.
15/05/15
00h57
Quero nada
"A qualquer momento você poderá ir embora, poderá sumir, não deixar rastros, se tornar ausência, se tornar nada".
Reaprendendo, relembrando, renovando.
Imagem: Mariana Caldas
Reaprendendo, relembrando, renovando.
Imagem: Mariana Caldas
segunda-feira, 9 de novembro de 2015
Presente
A liberdade é maravilhosa. Por ela, eu e você
podemos nos confessar o que sentimos, sem restrições, podemos confiar uma na
outra, sem medo de magoar – ainda que seja preciso sempre estar atentos ao
bem-viver da outra pessoa – podemos nos apreciar verdadeiramente, sentindo a
beleza que existe na imensidão uma da outra, nas tantas histórias que vivemos
quando distantes, nos prazeres independentes que sentimos, nos sonhos que podem
ser compartilhados, mas também podem ser próprios.
A liberdade é leve. Ela brinca de carícia nos
cabelos numa noite sem fim de músicas sugerindo paisagens e viagens
imaginativas. Ela se diverte com um beijo bem gostoso dado no inusitado de que
nos éramos quase desconhecidos. Ela brinca com tirar nossas roupas, alimentando-me
a beleza do ser com teus seios delineados, charmosos, com minha nudez sem medo
de estar contigo e de ser tocado, ser um brinquedo para tuas mãos e sensações.
Ela adora nossa dança ao amanhecer, nosso apertar bocas e coxas, a liberdade
ama pessoas que a vivem, que se permitem conhecer e querer sem condená-la.
Você está gostando da noite? Tu me perguntas. E eu,
que ainda não tinha te beijado a boca desde que há muito te deixara na
rodoviária, me aproximei para te gostar, te gustar, te deliciar – e sentir que
sim, a noite estava adorável, que contigo eu podia ser livre.
E sentir teu gosto, vermelho, doce, alcoólico,
fotográfico. Sob a luz vermelha do inferninho a gente brinca de estar junto,
sem saber de nada além de que estamos ali. Nossas roupas não duram nunca. Esse
lugar é destinado à nudez. A beleza que existe em ti colore nossa relação.
Beleza de pele, beleza de olhos, beleza de histórias e gozos, de partilhas de
segredos e proibidos.
A liberdade é um presente. Por isso devemos vivê-la
agora. Libertando e voando, querendo e cuidando, dando prazer e se dando
prazer. Agradeço e celebro todas as pessoas que são livres por ampliarem a
minha liberdade e voarem comigo.
06/11/2015 - Alto Paraíso-GO, na mesinha do canto do cantinho Cravo e Canela, esperando a madrugada para voltar para mais perto de casa...
sexta-feira, 23 de outubro de 2015
Sobre Astrologias Subjetivas e Afetivas
Cada
pessoa é um universo. Uma infinitude de espaço vazio, potencial, salpicado de bilhões
de galáxias de interesses e vontades coloridas, incontáveis buracos negros de
dúvidas, medos e traumas misteriosos, um sem fim de estrelas ofuscantes de
sonhos, desejos, impulsos, e tantos e tantos planetas de ideias,
características, traços de personalidades e personagens, histórias, memórias e
ficções.
E todas nós, universos, vagamos por este multiuniverso que nos contém e/ou nos possibilita conviver. Convivência esta igualmente astrofísica, astroquímica, astrodinâmica, astromística, mediada pelas forças gravitacionais, pelas matérias escuras, pelos raios cósmicos, pelas radiações estelares e pelos fenômenos inexplicáveis, quânticos e metafísicos.
Neste multiuniverso, em seu espaço de distâncias infinitas e expansivas, estamos em constante movimento, vagando pela imensidão a perder de vista, sem horizontes, hora circundando outros universos, ora isolados de tudo. Em dados momentos, nos aproximamos então daquele universo de cabelos zodiacais, de olhos lunares, de curvas meteóricas, de espírito astronômico que nos atrai com sua beleza gravitacional. E nos vemos dançando esta dança orbital de seres perdidos na vastidão, em busca de encontros que os amplie e os acalantem, como o calor de uma estrela próxima que propicia a vida.
Nos sentimos motivados a entrar em atrito sensual com a meiga e fervente atmosfera dela, queremos desvendar os mistérios de seus continentes e seus oceanos, explorar todos as suas histórias-satélites, entender a influência das experiências-constelações que ela viveu.
E todas nós, universos, vagamos por este multiuniverso que nos contém e/ou nos possibilita conviver. Convivência esta igualmente astrofísica, astroquímica, astrodinâmica, astromística, mediada pelas forças gravitacionais, pelas matérias escuras, pelos raios cósmicos, pelas radiações estelares e pelos fenômenos inexplicáveis, quânticos e metafísicos.
Neste multiuniverso, em seu espaço de distâncias infinitas e expansivas, estamos em constante movimento, vagando pela imensidão a perder de vista, sem horizontes, hora circundando outros universos, ora isolados de tudo. Em dados momentos, nos aproximamos então daquele universo de cabelos zodiacais, de olhos lunares, de curvas meteóricas, de espírito astronômico que nos atrai com sua beleza gravitacional. E nos vemos dançando esta dança orbital de seres perdidos na vastidão, em busca de encontros que os amplie e os acalantem, como o calor de uma estrela próxima que propicia a vida.
Nos sentimos motivados a entrar em atrito sensual com a meiga e fervente atmosfera dela, queremos desvendar os mistérios de seus continentes e seus oceanos, explorar todos as suas histórias-satélites, entender a influência das experiências-constelações que ela viveu.
E assim, nos conhecemos mais, florescemos mais, nos expandimos, a partir da partilha, do cuidado, da colisão dos átomos produzindo novos elementos de arte e alegria.
Mas às vezes esse mesmo universo que tanto nos atraiu com sua gravidade charmosa e iniciativa cósmica, também, por motivos não explicados ou explicáveis, afasta-se, ou pior, some no espaço-tempo, perdida na matéria-escura desconhecida do infinito.
E fica em nós ainda por muito tempo aquela estranha sensação de atração pelo que já não está lá, aquele peso gravitacional que nos puxa para um chão que desapareceu.
Demora ainda um pouco a nos habituarmos com a gravidade-zero, ou o vazio cósmico do (des)equilíbrio dinâmico do nosso próprio universo em movimento.
Ao som de Breezeblocks, de Alt - J
Dormir aqui
Aproximei-me dela "posso dormir aqui com você? E ela me olhou, com uma das sobrancelas arqueadas e mordendo levemente o lábio e rebateu "como assim? E eu me declarei "dormir assim, juntinho, te fazendo carinho e te dando prazer... Os olhos dela brilharam e com o canto da boca ela riu e disse "uma proposta assim e vinda de ti é difícil de recusar, e ela disse isso enquanto sua mão levantava o lençol, abrindo as portas da boa ventura. Convidou-me com seu corpo nu a presença do meu corpo nu. Então, deixando cair no chão as poucas roupas que me prendiam, deitei-me somando meu calor ao dela. Ao aproximar-se das peles, os pelos se eriçaram e eu a abracei, naturalmente minha boca chegando em sua nuca e minha respiração ressoando em seu ouvido. Acarinhei o pescoço dela, inspirando o perfume dos seus cabelos cacheados cheios. Minhas mãos, uma envolveu seu ombro e a outra começou a dançar pelo corpo dela, dedilhando a pele macia, buscando as notas que mais acariciavam seus sentidos. E longamente fiz carinho na barriga, na cintura, nos ombros, nas coxas e no sexo. O quadril dela apertou um pouco o meu, chamando-me e a segui, buscando-a e ouvindo-a. Quando me senti dentro dela, degustei o suave movimento levando-me e deixando-me, mas nunca completamente. E eu também ia e vinha, em sintonia, tão lentamente quanto a maré, que a enchia e inundava, a deixando molhada e molhando-me deliciosamente. Beijei o canto de sua boca, minha mão segurando seu rosto e tocando-lhe suavemente. E assim ficamos por bons cuidados até que repletos, nos deixamos levar para a inconsciência do sono e do sonho.
Escrito em Belém/PA, 28/09/15, deitado na orla de Icoaraci.
O Encontro é a Arte da Vida
Um metamonge taobudista poderia dizer que existem três qualidades simples que podemos exercitar para a vida.
A qualidade do Vazio, a Paciência e a Atenção Sensitiva.
A qualidade do Vazio não se trata de nos esvaziarmos, mas de ampliarmos nosso potencial de Vazio e nossa convivência com o Nada. "Perder o Nada é um empobrecimento, brincou um dia Manoel. O nada nos permite mais, nos liberta, porque tudo cabe no nada.
Quem já está cheio demais, de certezas, de ideias, de planos, como pode fruir o fluxo da vida?
A paciência é a ciência da paz. Sentir a vida, permitir a vida, seguir a vida e respeitar a vida.
A pressa causa ansiedade, que leva ao desespero, que provoca medo e frustração. Aquele que segue calmo e confiante o fluxo-tempo da vida, em paz e ciente de que todos os rios se derramam no mar e todas as vidas são única e toda Vida, vive pleno sua vida sua e sua vida Tudo.
E na brincadeira dessa duplicumplicidade de ser só e ser tudo simultontamente, abrir bem os olhos, narinas, ouvidos, boca, pele, intuição, sonhos, braços, pernas, desejos, tesões, caminhos, possíveis e impossíveis...
Sentir bem tudo, por todos os sentidos, todas as linguagens, todos os sexos, todas as amorosidades...
Bem atento e sensível a tudo, aos movimentos da maré e correntezas, às frentes frias e ares ascendentes, às chuvas e sóis, para evitar as pedras e aproveitar os impulsos...
E nessas três qualidades simples, vamos encontrando a vida a cada dia, dentro, na profundeza da gente, e fora, em cada beleza viva, gentes, plantas, cabelos, aves, danças, bichos, águas, corpos, flores e sorrisos...
Escrito em Belém/PA, 27/09/15. Iniciado durante o 5º Elemento, evento de Hip Hop feminista, ao som do Dance Hall de Wande Coal - Baby Hello e concluído no Coisa de Negro, bar em Icoaraci, perifa de Belém, às 23:52.
quarta-feira, 21 de outubro de 2015
Strip-metafísico
Você me olha
com teus olhos-de-aforismas-que-alertam-que-te-olhar-nos-olhos-é-perigoso
Você pisca
lentamente, movimentando o ar com teus longos cílios paradigmáticos
Você balança
suavemente teus ombros-enigmas como uma quimera egípcia prestes a me devorar
Você ginga tua
cintura-axiomática que balança teu quadril-paradoxal que baila tuas
pernas-apote(r)óticas sobre teus pés-transcendentais
Você tem sobre
o corpo apenas um punhado de leis-sugestivas, morais-lascivas, vendas-proibidas,
cordas-abrasivas...
Você então
começa o ritual-problemático de lenta-letalmente despir-se de cada uma dessas
vestes-impossibilidades
Você primeiro
começa a tirar as tais leis-de-ceda que te enluvam as mãos, jogando-as para
longe, aos meus pés
Você me volta
teus ombros-caóticos e deixa cair as alças dessas morais-bojudas que te cobrem os
seios-existenciais, jogando para longe então o tal sutiã-teocrático
Você segura em
tuas mãos-notívagas estes peitos-místicos, dançando-os para mim
Você suavemente
então acaricia-questiona teu corpo-empírico, retirando afinal essas
vendas-tecidas-de-regras, revelando-me satoris e estalos de elevação de tesão-consciências
entre tuas pernas-libertárias
E das cordas-icógnitas
tu fazes arrastões-metáforas que esculpem essas pernas-utópicas que me cegam a
ignorância
E desnudam-me
a escuridão-iluminada
Você senta no
meu colo beijando ideias na minha boca, sedenta, enquanto teu bumbum-sinestésico
pressiona meu sexo-inspirado
Você me agarra
o corpo e sem piedade-socrática faz com que eu te metafísica...
Strip ao som de I Melt With You - Nouvelle Vague
terça-feira, 20 de outubro de 2015
Malefício da Dúvida
- É uma coisa louca o que acontece com gente como a gente. Tipo, nós somos pessoas muito carinhosas, quase sempre, sempre que dá, né? E aí como a outra pessoa pode saber se nós estamos afim dela ou se apenas estamos sendo carinhosas espontaneamente, sem querer nada além de sermos carinhosas como nós somos?!
- Porra, já aconteceu comigo. Muito tempo depois uma grande amiga me confessou que no começo ela super achava que eu tava afim dela, só porque eu era super afetuosa com ela, abraçava, fazia carinho na cabeça, brincava de chegar próximo por trás e fechar os olhos dela com as mãos para que ela adivinhasse quem era... Mas na real isso nunca me passou pela cabeça. Nunca senti atração física por ela. Se ela não tivesse dito, eu nem teria jamais imaginado que ela pensou isso de mim.
- Né?! Mas o foda é quando isso se volta contra nós! Tipo, se eu sou assim com as pessoas, suponho sempre também que não é porque a pessoa está sendo super carinhosa comigo que isso, necessariamente, já é sinal de que ela está afim! Tipo, o que nos diz se a pessoa está afim, se ela não fizer algo mais óbvio como dizer na cara "ei, tô afim de você" - coisa que não é muito normal, né? diga-se de passagem - ou simplesmente te beijar do nada - já aconteceu comigo - Sei lá... Talvez tenha gente que simplesmente não consegue explicitar em determinadas situações e com determinadas pessoas que elas estão atraídas pela gente, ainda que estejam... E fica nessa dúvida sem fim - Será? Vou? Faço alguma coisa? Ou eu tô viajando, não tá rolando nada, e se eu fizer algo vou estragar tudo?
- Que foda é isso, né? Eu tenho um trauma. Seria ótimo se pudéssemos dizer simplesmente, quase "inocentemente", sem pretensão ou preocupação de reciprocidade nenhuma, poder dizer com naturalidade "olha, eu gosto de ti, sinto uma vontade imensa de te beijar, adoraria tirar toda tua roupa e acariciar e mordiscar todo o teu corpo... MAS, de boas se você não sentir isso, eu até tenho a sensação que tu não sentes, mas, na dúvida, achei por bem te dizer, né? Vai que...
- Porra, seria lindo. Tudo seria mais simples. Seria como viver o tinder olho-no-olho, sem precisar da bosta de um aplicativo pra gente poder dizer na cara das pessoas que a gente está afim delas, que achamos elas lindas, atraentes, sensuais, encantadoras, gostamos do jeito delas rirem...
- E sem que com isso, as pessoas passem a agir estranhas com a gente, nos evitando, pra que a gente não "tente nada"...
- "Amooor, eu estou afim de você, mas não sou um bicho, não vou te atacar. Se tu não estiver afim, beleeeza! Estamos de boa, podemos conversar, podemos ser amigos, tranquis"!
- Né? Tem gente que o simples fato de saberem que estamos afim delas e elas não estarem também causa um incômodo, elas acham ruim, querem distância, aff!
- Traumas... Porra. Estava super apx pela mina, mas eu tinha quase cem por cento de certeza que não rolava nada além de amizade com a gente. Mas burramente eu tava com uma necessidade idiota de botar pra fora, sabe, dizer o que eu estava sentindo, porque aquilo tava me angustiando, me asfixiando de algum modo, e eu achava que se eu dissesse, eu me libertava, sabe?
- E aí?
- Tipo, eu disse exatamente assim, no ouvido dela "sou apaixonado por você" e ri. Ela fez cara de surpresa, de "quê?" e começamos a rir. E aí eu expliquei a coisa toda, de que tinha quase certeza que não rolava nada entre a gente, o que ela confirmou, que só éramos amigos, que isso era ótimo, que eu só precisava compartilhar isso com ela e tal pra me sentir melhor. O quê? Altas tretas. Ficou seis meses sem falar comigo. E hoje em dia a gente praticamente não se fala...
- Porra, que merda.
- Pois é, desde então cheguei a conclusão de que se você tá sentindo que não tá rolando, não vale a pena dizer só por dizer... Por que vai que, né, explode uma bomba na tua mão...
- Own... que triste...
- Pois é... queria eu fosse mais fácil...
- Eu queria que pudéssemos dar o benefício da dúvida... Pensar, "olha, não tenho certeza se ela está afim, mas, vai que está e eu não me liguei? Melhor perguntar"... Mas na real o mais provável é o malefício da dúvida "ó, se tu ainda não tem certeza que ela tá afim, se ainda tá em dúvida, é porque claramente ela não está afim e tu só queria que ela estivesse e fica na 'dúvida' por pura esperança idiota"...
- Own... (Ela segura na mão dela, como um gesto de apoio, talvez, ou de compreensão, de proximidade mesmo, ou...?)
- E, por falar nisso...
(Silêncio)
(Se olham nos olhos)
(Suspense)
(O ar parado congela. Ela pensa - o que será que ela quer dizer? A outra pensa - Será que falo mesmo?)
- Por falar nisso... eu sinto uma vontade louca de te beijar... Uma atração absurda por você... fico te olhando feito boba, contemplando como tua boca é bonita, tua orelha, teus cabelos, tuas mãos, teus pés...
(Silêncio. Piscar de olhos. Olhos nos olhos. Lábio inferior tremendo. Mãos ainda dadas. Mas imóveis...)
(Então, lentamente, as mãos dela começam a acariciar as da confessa. E aos poucos os dedos se apertam, segurando forte. E aos poucos as mãos dela a trazem para mais perto. Até elas ficarem cara a cara, a centímetros de distância.
- Por que você não disse isso logo?
(E a beijou como uma ventania que leva embora as pétalas das flores, que derruba árvores, que destrói em seu alvoroço violento e devastador.)
(E foi um beijo longo, mordido, doído até, porque atrasado, que deveria ou poderia ter sido há tanto tempo já, mas foi só agora... Como que um beijo urgente para tirar este atraso, como se ele tivesse que compensar todos esse tempo não beijado, esse tempo não tocado, esse tempo não expresso desejo. Um beijo de corpo, de braços, mãos, pernas enroscadas, de seios apertados, de pernas agarradas, de tesão liberto, de querer solto, de finalmente...)
Camomila - Cícero - é...
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