quinta-feira, 26 de julho de 2018

Ruminações

Por que eu falo com você? Por que você me responde? Você só fala comigo porque eu falo com você, porque se não, não falaria (?). Por que insistir em querer alguém que não te quer? Se o amor que, um dia, ou, vai lá, ainda existe dentro de você por mim, você escondeu dentro de um labirinto com inúmeros obstáculos e armadilhas e deixou lá, para que fique lá, para que não se possa alcançar, para que resseque e vire pó e o vento leve e assim está bom. Porque você tem muitos motivos para não me querer. Muitas boas razões para ficar longe de mim. Muito mais contras do que pros nessa lista invisível e dolorida. Porque os resultados possíveis aparentemente não são suficientes. Porque eu não basto. As previsões não satisfazem. O presente não era bom o suficiente. Muda, tenta e sofre, muda, tenta e sofre, muda, tenta e sofre, não é? Sem nada mais nas entrelinhas. Apenas um passado, esse sofrimento antigo que lateja, um fantasma incômodo que perturba e que eu, educadamente, respondo, porque não gosto de ser grossa, porque, nem sei, porque sou uma pessoa legal mesmo e não gosto de destratar. Mas um dia ele cansa, ele pára, ele enfim entende que é isso, que foi apenas um lapso da minha parte, mas eu sei que eu mereço mais, e que é uma perda de tempo. Dentro de mim existem dois lobos, o amor-próprio e o amor-por-ela. Se alimento um, o outro rosna. Se alimento o outro, aquele rosna. Houve uma cissão entre eles e tornaram-se excludentes. Não sei como alimentá-los ambos. Porque se eu amo uma pessoa que não me quer, como me amar também? Meu amor-próprio diz "existe alguém que te quer de verdade, que você não precisa mendigar atenção, não precisa insistir, argumentar e contra-argumentar, convencer, provar logicamente, com gráficos e futuros comprovados, garantidos, para merecer e/ou receber o amor. Alguém que simplesmente sabe que te ama, sente dentro, bem dentro, e que sente de volta a magia da reciprocidade, e isso basta. Por você ser quem você está sendo, naquele instante e no seguinte e mudando, sempre, sim. Alguém que não tenha tantas feridas, ressalvas, poréns e justificativas. Talvez um dia tenha sido assim com você. Há muito tempo, antes de tantos erros, desvios, quebras. Demorei demais para chegar lá, eu sei (e na verdade ainda nem cheguei, de fato, materialmente, apenas na intenção/sensação/vontade), para me sentir a pessoa que, presumo, você queria que eu fosse. A pessoa "pra casar, ter filhos, fazer planos de viagens e decorar a sala de estar". Sinto-me tão pouco, inútil, insuficiente, como se minha vida tivesse sido em vão porque não pude fazer o que poderia fazê-la querer ficar. Me sinto culpado, invadindo, perturbando, quando penso nela ou a busco. Porque, aparentemente, você tem uma projeção de mim que não corresponde comigo, a pessoa que eu "realmente sou" não é a que você "realmente quer". São duas imagens que não coincidem. Eu sou apenas a ilusão de ótica, o esboço mal-feito de quem você ainda encontrará, tenho fé. O engano, o momento de fraqueza, aquela pessoa que seu íntimo sabe que deve ficar longe. Afinal, o que eu estou fazendo? Você tem coisas melhores para fazer do que perder tempo comigo. Não faz mais um tempo bom para desperdiçar comigo. 

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