Aproxima a xícara do rosto, encosta o nariz na borda, respira o vapor quente que sem hesitar entra pelo corpo espalhando um bem-estar muito bem vindo. Respirando aquele calor, aquece também o espírito, as emoções e as lembranças. Sentado no sofá azul e acolchoado, cercado pela manta de sua infância, seu jardim de pequenas recordações, rodeado pelas melódicas notas de piano daquela película de emoções, sente em todo o corpo as energias suaves e firmes caminhando por suas veias, sua pele, suas camadas e profundezas e cômodos de sentimentos... O resfriado ajuda-lhe a acalmar-se, parar por alguns bons instantes com o chá fumegante nas mãos e a história que lhe é tão querida diante dos olhos... Mas desta vez não assistia à história, mas a tudo que a rodeava, os comentários do mágico, do preciso, do técnico e delicado olhar e sabedoria serena do diretor... conversando com ele, apontando infinitos detalhes despercebidos... logo eu, que já vira tantas vezes o filme, procurando as ínfimas riquezas, os tesouros escondidos entre as transições musicais e gestuais, as jóias de cada expressão e sutil pista de sentimento nos personagens... Ah, havia muito mais, muito mais... e deslumbrado ele nadava pelo filme como um bálsamo adicional para seu corpo e espírito unidos... unidos pela sensibilidade inebriante da luz, dos ângulos, das cores, das sombras, das palavras, das complexas e profundas relações, dos subterrâneos sentimentos humanos, verdes, amarelados, avermelhados como a passagem do verão para o outono... As folhas sensitivas flutuavam em sua descida, cobrindo a memória com as graciosas e minúsculas flores do tempo... O tempo antigo, o tempo breve e o tempo agora em um equilíbrio pacífico, plácido, como um céu da manhã que vê as neblinas dessipando-se diante dos primeiros raios da cálida estrela. Toda a beleza da vida resplandecendo...
terça-feira, 20 de julho de 2010
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2 comentários:
Esse teu texto me fez entrar num grande ar de mistério... aquele mistério que dá prazer e faz pensar.
Orgulho e preconceito?
Pra mim, foi.
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