quarta-feira, 7 de julho de 2010

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Ela\e chegou então, mas como se já ali estivesse desde sempre e sua ausência permanente fosse a constância da sua presença. Porque para ele o estar e o não-estar eram absurdos da linguagem que separam o aqui e o agora. No entanto, ele\a veio. Veio para nós, que não podiamos vê-la\o. Ela\e ali se sentia tão conhecida\o pois era de tudo nascido\a. Sua roupa, ou aquilo que cobria-lhe o que não podiamos ver, ou que protegia o que não podia ser machuado, ou qualquer coisa que desejamos designar por veste, era de cor indefinível, pois tinha em si todas as cores manifestadas plenamente, e não implícitamente, como a luz. Era então o furta-cor, o que rouba da cor a sua individualidade, por ser em si todas elas. Seus gestos eram igualmente e diferentemente indefiníveis. Nem leves nem pesados, nem fortes nem fracos, nem ágeis nem lentos, eram tudo ao mesmo. Quando aproximou-se do que estava perto, quando senti-o\a perto, perguntei-lhe:
- Como é teu nome?
Ela\o respondeu:
- Como quiser chamar. Que nome darás?
- Eu? Não posso te dar um nome, pois já deves ter um. Diga-me.
- Se alguém um dia deu um nome, fez assim como tu, pensou e jogou, sem Uma razão. Que diferença? Que importância? Que impossibilidade? Tente.
- Que nome se deste?
- Que nomes existem para dar? O que definiria? Quantas letras são necessárias para abarcar o todo e o tudo? E a você, quantas? Qual teu nome? Quem o deu e com que poder?
- Tantas perguntas tens. Quantas respostas, afinal
?
- Quantas precisas? Pode-se dar.
- Dá-me três.
- Podes chamar quatro-gotas-de-seiva, caixa-de-esterco-do-mato, espaço-de-nada-contido, plácida-tempesdade-de-adagas-macias, árvore, pedra, peixe, azul, verde, amarelo, de tudo podes chamar.
- Não compreendo, o que queres dizer com isso?
- O que queres perguntar, afinal? O que queres compreender?
- Quem és?
- Não o estás vendo? O que há diante de ti é o que é. Não o sentes? Não o é?
- Mas eu não sei, quero saber.
- Que sabedoria há em um nome outorgado? Em saberes o nome, o sabes?
- Não, quero dizer, não sei. Sei? O que sei?
- Não posso lhe responder. Não diferimos, não somos partes distintas. Se não sabes, não sei. Quando souberes, saberei.
- Como?
- Como não?

- Não queres conversar?
- Algum momento não estivemos conversando? Não há conversação entre tudo a todo momento? Ou há um silêncio eterno intransponível? Ou algo no intermédio, ou no meio, ou n´uma ponta ou na outra do infinito? O quê?
Não pude mais perguntar-lhe nada. Há agora todas as perguntas dentro de mim e todas brotam e se chocam umas contra as outras, desfazendo-as e refazendo-as n´um fluxo contínuo. Algo como a corrente do rio que nunca cessa de passar, da cachoeira que sobe ao cair, fria ou quente, forte ou fraca, ambos, ambas. Minha confusão fez-se um prisma indiviso. E nós então estivemos juntos para sempre e nunca mais.


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