segunda-feira, 21 de maio de 2012

Chá e cogumelos


- Desfaço-me... eu era alguém... toda vida penso que sei quem sou... e erro...
- Pois eu sei exatamente quem sou e tudo que quero mostrar
- Sempre me fechei... aprendi que não adiantava me mostrar aos outros, pois não é possível compreender... sempre termina pior... além do mais, tinha a forte sensação de que não fazia sentido perguntar aos outros o que eu deveria fazer... só quem poderia decidir tal sou eu...
- Expor-se aos outros é um desgaste... frustrações e traumas desnecessários... guardar-se, esconder-se, deixar-se no mistério, na bruma... isso sim dá o sabor... Fingir-se, inventar eus quaisquer, ser muito mais do que si mesmo... ir depois do que se imagina... Ser qualquer coisa, menos essa fragilidade de si...
- Não sei... sinto-me distante do que não conheço... quero conhecer, quero ouvir, quero sentir... como sentir sem conhecer? Sinto-me distante... como aproximar-se? 
- Ah, deixe o corpo mostrar esses caminhos... conheça as sensações, o prazer, o êxtase, o gozo! O resto... não significa nada mesmo...
- É?... O mistério... ele existe... ele é real... independente de querermos ou não... há mistério sempre, sempre há algo a desvendar...   E agora... surge novo mistério! Tudo que eu era perdeu-se... não sei mais... as seguranças que tinha, as certezas, desfizeram-se... quero saber o que é a inexistência de segurança sem insegurança... o nada... Ser nada... não é algo que eu esteja provocando... apenas estou me desmanchando... quebrando cada partezinha sem conseguir recompor... e me tornando nada... 
- E o que será você, afinal? O que significará estar com você, nada?
- Então! O silêncio? A presença? O olhar que desabre? O que é não ter nada a dizer? Ou não querer dizer nada? Qualquer coisa que se diz parece tão desnecessário... o que se diz não é o que realmente dissemos... o que queremos expressar... O corpo falaria melhor?
- Ah, sim, o corpo! Abandonar-se no corpo! Um templo, um altar! Sacrifique-o ao suor!
- Mas, preciso sentir... um outro querer também... minha dúvida é se também quer, ou se sou eu quem quer... não quero impor, não quero invadir... Lembrei-me (maldição) da minha primeira sensação de invasão... como sentir-me convidado?! Parece que apenas esperas eu fazer o que eu quero... ou quando fazes, fazes pensando no que eu estou querendo... o que quer?...
- Dúvidas eternas! O que o outro está sentindo?! Como podemos saber? Não adianta, chapa... você só faz se torturar! Só há uma coisa a fazer... ir em frente... fechar os olhos... e levar-se pelas mãos... pela boca... escute o que a boca diz sem dizer... 
- Doença!... quer saber? Não quero mais saber de nada... vou afogar-me no que for... na pele, no cabelo, no vazio, na voz, no olhar que não sei para onde olha... não saber é preciso... não ser é preciso... não nada é preciso! Prever é cegar-se... pensar é matar-se... sentir é viver-se... Sentir o que for para sentir, e não o que se quer sentir... não se pode querer o que não é, só o que é... se é, é... não querer! Não querer!
- Se a onda te esbofeteia, curta o sangue... se o sal te arde os olhos, curta a dor... se o corpo te deixa quieto, curta o contato ameno, sereno, pequeno... 
- Mas não seria isso uma forma de passividade?... Apenas deixar-se? Sem ir?
- Velho, pára de teorizar, vai... se a lagoa tá parada, o vento não reclama, tá!
- Contato... perto... colado... é real... vem... chega... 
- Tá vendo? Já está entrando em transe... é melhor transe-ar... Vai lá, pega ela... aperta bastante... derrete... ferve e toma bebericando...

Uma música - Crimewave - Crystal Castles

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