domingo, 4 de maio de 2014

Cenas sonoras

Pés descalços, laços coloridos no tornozelo, andando sobre fios suspensos, sobre concreto armado, sobre troncos cinzas, muito acima do chão.

Varanda de madeira, pântano verde, céu verde, tudo verde, musgo, escuro, parado, brisa leve, copo largo, grande, cheio de chá mate, caminho de terra que leva embora, solidão, casarão de madeira, único cômodo com cama, mesa, pequeno armário, fogão a lenha, baú para as roupas, estantes e pilhas de livros, banheiro lá fora, ligado à casa por outro caminho de terra.

Dedos, teclas, sons de gaita, acordeão, escaleta, uma calçada, sentado, tocando, despreocupado, improvisando, lembrando, sem jeito, certeiro, preciso, desritmado, quieto, chorado, vibrante, esganiçado, moedas, chapéu, latinha de ferro, jantar, roupa surrada, algodão cru, chinelos velhos, olhares tortos, canções antigas, músicas rápidas, haicais sonoros.

Remando uma canoa de madeira velha roubada da margem esquecida escura sem ninguém por perto explorando aquele pedaço de rio verde cercado de mangue caranguejos pretos azuis roxos pensamentos vagos turvos como a água parada remexida unicamente por seu barco raso indeciso incerto despertando sapos e pássaros ao redor por onde passa sem destino em busca de uma praiazinha escondida qualquer para sentar barraca acender fogueira e esperar estrelas.

Balanço de rede, carinho, deitada no colo dele, deitado no colo dela, pernas sobre pernas, pés sobre pés, dedos chegando-se, dia inteiro passando, fumaça de incenso, de chuva, de nuvem, carícia no nariz, nas sobrancelhas, atrás das orelhas, ´gosto de cuidar de você, as paredes lilás sustentam aquele quase peso de duas vontades juntas, ´é bom teu calor´, a voz dá voltas nos cabelos e chuvisca sobre os lábios, ´cada conhecer de ti me encanta mais, céu calmo, dia sereno, sem noção de tempo...

Night Outra - Metronomy - música que fez esse texto...

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