sexta-feira, 2 de maio de 2014

Contos Proibidos e Inflamáveis I



´Só porque essa roupa está molhada e eu não quero resfriar, vou tirar, tá. E restou-lhe apenas aquela pequena obra prima de renda. Edredon que se cuide, pois é ela quem me aquece do frio ar-condicionado. Envolver-lhe o corpo significa o tratado de paz do mundo e o ímpeto pela inevitável comunhão universal. A ideia era dormir. Mas era mentira. Ainda que uma mentira demorada, que custasse a se manifestar. Deitados em conchinha, corpos colados compartilhando calor, querer, mensagens subliminares na pele. Corpos voltados um para o outro, pernas entrecruzadas, enroscadas, enlaçadas, quadris e sexos pouco a pouco dançando no ritmo da vontade própria, pois os quadris e os sexos tem vontade própria. Então ele fica nu, porque não dá para estar de outra maneira. E ela chega mais perto. E ela vem por cima e ele chega embaixo, beijos nos seios, que é para enlouquecer mais rápido, mordidinhas na pele, na orelha, nas pernas, que é para descontrolar. E o calor infla os cobertores em um balão que voa longe, o quarto abre suas paredes, pelas janelas entram nuvens, do banheiro saem pássaros atmosféricos, pois aqueles seres´corpos tem no lugar de cílios asas, no lugar de cabelos, ventos negros e encaracolados, e os corpos alçam-se doidos esvoaçando o mundo, penetrando o ar, um tesão de furacões, em orgasmos de tempestades...

Le Molin - Yann Tiersen versão escaletística...

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