Autonomia ou morte. Transformação ou morte. Amor e Beleza ou morte. Sentido e Cuidado ou morte. Movimento ou morte. Todas essas palavras, esses conflitos, essa angústia, esse limite extremo - da morte - expressam minha compreensão do mundo, inevitável, irredutível, inalienável. Assumindo-me como ser humano, como sujeito, como próprio, como parte, compreendo-me e compreendo o ser humano como alguém que É criador (de si, do mundo, de tudo que lhe cerca, envolve e transpassa), É transformador (de si, do mundo, de tudo que lhe cerca, envolve e transpassa) e Pode Ser Mais, ou seja, inacabado, infinito, interminavelmente seguindo adiante, buscando, descobrindo, criando e transformando. Sendo criador e transformador, entendendo que sempre pode ser mais, não pode viver para o outro, sem viver para si, dominado pelo outro, logo a autonomia se torna inevitável. Em permanente relação com todos os demais seres que participam da criação e transformação, não pode conviver sem amor ou beleza (que talvez eu entenda como sinônimos), pois que se cria e transforma para o amoroso e o belo (ainda que às vezes se use a linguagem do feio para transgredir e mostrar o belo), sendo amoroso e belo, faz sentido, tem sentidos, criadores e transformadores, e cuida de tudo com que e quem convive. E inacabado, permanentemente transformando e criando, nunca pára, nunca termina, está sempre em movimento. E ciente deste movimento em si, está ciente dele também em tudo, e sendo assim, entende o apego e a busca por manter as coisas como são como ilusões e formas de frustração e sofrimento.
Tudo isso é o que eu entendo por viver. Sem algo disso, para mim é o mesmo que não-viver, e não viver é o mesmo que a morte. A morte nada mais é do que a última forma de resistência. Ela não é um fim, não é um acabado. É a superação última da dominação, que não pode dominar o morto, e muito menos o vivo, que prefere estar morto do que ser dominado.
Sendo assim, busco realizar essa compreensão da vida e do mundo em tudo, individualmente e coletivamente, com todos, de forma a reconhecer e valorizar a autonomia e movimento de todo e cada um, nunca impondo-lhes a compreensão, mas criticizando e problematizando a vida e o mundo de modo que cada um e todos superemos as dominações que nos matam em vida. Há muitos que preferem sub-viver ou não-viver à morrer. Há muitos que se submetem, não tem autonomia, foram educados a não-transformar, vivem sob o ódio e a feiura, em existências sem-sentido e sem-cuidado. E ainda assim preferem continuar não-vivos à morrer, o que me é insuportavelmente paradoxal e incoerente. Convivendo com estes, procuro compartilhar com eles a vida e o movimento, a possibilidade de Criar, Transformar e Ser Mais, individualmente e coletivamente, em si e em todos, simultaneamente, já que o um não existe sem todos e todos nada é sem o um.
Contudo, também de forma contraditória, parece um caminho solitário, pois cada um trilha rumos diferentes, objetivos diferentes, compreensões diferentes da vida e do mundo. Ainda não encontro mais seres que compartilhem desta visão, desta ação, desta assunção radical de humanidade e existência e que possam construir juntos esses caminhos e movimentos. Às vezes a desolação da solidão envolve e desampara, faz os esforços parecem inúteis e infrutíferos, às vezes a esperança e a teimosia renovam os ânimos e mostram que ou movimento-me ou morro... Como ainda tenho forças para movimentar-me, não está em tempo de morrer. E a morte nada mais seria do que uma superação desta desolação que paralisa, que impede, que soterra. Quando nascemos, temos forças novas.
De fato, morremos. Nascemos e morremos constantemente no fluxo de uma existência. Desistimos e reacreditamos, mudamos, renovamos, seguimos caminhos diferentes, imaginando que cada um deles será mais alegre e transformador, criando novas realidades, vivências e relações. Enquanto morrer, irei nascer. E sempre que nascer, começarei de novo.
Imagem: Chico Ludermir
quarta-feira, 21 de maio de 2014
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