Ora vivem na escuridão, tateando-se com dedos querentes, olhos marejados, bocas mordentes, corações latejantes, corpos inquietos. Não sabem o que será. Indefinição. Cada dia revela emoções que desvelam seus espíritos e inconscientes, que caminhos podem seguir... A soltidão de si mesmos ante um ao outro os desconcerta. O que fazer? Como fazer para serem apenas e estarem como queiram? Como traduzir esse querer, distinto de carência, distinto de solidão? Quando se encontram, é sim um encontro: um-com-o´utro. Quando estão separados, como estão? A ele parece inexistir separação... tão pertinho, tão quentinho que a sente. E ela talvez também se sinta assim, mas às vezes não. Neste momento não consegue duvidar do hoje nem do amanhã. Momentaneamente está crente de que tudo vai bem... e vai continuar bem... Mas há pouco não era assim. Há pouco era o pior pessimista, sentindo-se uma sombra no meio dos outros. Os polos dele inverteram-se mais uma vez. Da expansão para a contração e novamente para a expansão. Mas com calma. Calma, amigo, calma menina. "Deixa ser como será"...
Assim, soltos... e juntos... Como duas frutas maduras no alto do galho, lado a lado, sentindo-se os poros, as polpas, os sabores... prestes a cair a qualquer momento, decomporem-se, transformarem-se... Amar´durar...
Será que um dia vai aparecer algo verde, azedo, ciumento, para derrubar os galhos? Para afastar, impedir, querer só pra si?
Um dia ela chega com a notícia. - Conheci alguém. To com uma melancia no peito, toda molhada, vermelha até não poder mais... E não consigo me desprender dele, nem ele de mim. E estou feliz como nunca pensei e preciso te dizer que não dá mais... Ele não gosta, não consegue entender... Eu também não sei se consigo... É muito pra mim, meu corpo não cabe. De toda forma, não dá... um dia, quem sabe... a gente volte a se ver... Mas vamos ficar assim, tá, de boa, sem mais...
Uma semana depois eles se encontram. A sós, n´um corredor entre salas grandes, uma escura, luzes coloridas, música dançante, outra clara, bebidas refrescantes, animantes, gente e vozes de ensurdecer. Naquele meio, estreito, um diante do outro, o movimento cessa, o som apaga, o mundo acaba. Ficam só os dois. E se atracam, se abocanham, se desesperam, se arranham, se entregam... Não conseguem - não estar - não querer - não se deixar um ao outro...
Dá merda. O outro cara, o que "não gosta", não entende. Não entende que não é um caso, não é um passado, não é nada disso. É simplesmente que eles são, pô... são e vivem sendo e quando se encontram, não podem deixar de ser... Um e outro são um para o outro... se sentem com o outro, como nuvens que se fundem, se mesclam, chovem, evaporam, trovejam... Não tem nada a ver com ele. Ela tá afim, ela ainda tá melancia pelo outro... massa, sem problemas. Mas e aí? São sabores distintos, sensações, convívios, atmosferas, realidades, vontades distintas... cada uma a seu jeito, merecem ser vividas...
Ele um dia chega - Tô doido. Quando te vejo, meus olhos te beijam. Quando te beijo, minha alma te transa. Quando transamos, meu abismo se esclarece. E como se não bastasse, estou também insano. Porque ainda estou doido por uma índia ou cigana, olhos puxados ou desavisados, bruxa ou xamãnica, sei lá... sabe?... Estou voltando aos confins da terra, virando do avesso quantas vezes a flor do maracujá permitir. Jah, Jazz, Exu e Shiva piram-me os sentidos e os limites. Ela ri demais, se embebeda com o jeito descabelado dele de quem fez travessuras e gostosuras. Ele gargalha junto, caem no chão, rolam, pinga chuva, enrolam-se nos cabelos, despejam beijos... despem-se ali mesmo, fertilizam as gramas e ficam quietos... sem forças para se mexer...
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