terça-feira, 30 de abril de 2013

Des(caminho)


Quando estou só o mundo desaba sobre mim... sinto toda a realidade de viver pressionando cada centímetro cúbico-múltiplo de minha pele-espírito. Diante das pessoas, uma névoa turva minha tormenta, ilusoriamente ganho um ar tranquilo e equilibrado. Mas não, não... Nada mais do que um despedaço de gentes, uns fragmentos acumlando poeiras, umas folhas caídas voando com o vento, mortas e desvairadas... 

Sinceramente, vivo por impulso, por gravidade, por disparate... Viver me parece diariamente uma chacota de nossa estupidez... Viver apesar de tudo é simplesmente um birra, uma teimosia, como uma criança que não quer ir pra cama, dormir... não se entregar, ficar insistindo no que não tá rolando... 

Que se fodam os pais... deviamos todos ser tão desobedientes quanto a mais insana das crianças... brincar no banho até morrer, comer doce até morrer, ou então construir uma humanidade linda e risonha até morrer... mas nunca não morrer, mas também não viver, como todos os malditos assalariados, proprietários, burgueses, escravos, consumidores e categorias afins...

Tudo está acabando o tempo todo... tudo se foi... não existe nada... Mover-se no tempo/mundo é como deixar-se flutuar na maré... mas eu fico nadando o tempo todo, por medo de me afogar... canso, fico sem ar, me desespero, fico com medo de que tudo dê errado, desconfio do instante seguinte, de que outra onda vai arder-me os olhos... 

Hemorragia emocional... sangro, sangro diariamente, inteiramente, fico pálido, nu, cru... movo-me como um coco jogado pela tempestade... fico dançando descabeladamente no vazio branco e extático de música e átomos e vazio e ausência e nada... Não vejo diferença entre vida e morte. Talvez só a aparência. Na vida temos essas aparências com que nos acostumar... e, acostumados, vamos nos prendendo, nos enrijessendo... Na morte, o que há para se acostumar? Silêncio... universo...criação... destruição... nenhuma palavra, afinal...

Tudo que sinto que "tenho que fazer", divirto-me não as fazendo... defendendo meu direito de nada... de negar... de morrer... o direito de morrer é fundamental... morrer pra tudo que não é viver, que tal? Morri, esqueça de mim... não existo, se existir exige registros gerais, instituições, cadastro de pessoa física, matrícula, inscrição, pagamentos e dívidas... me movimento apenas... como o que comer, durmo o que dormir, leio o que ler, produzo o que produzir... não sou a comida, nem o sono, nem a cultura ou a produção... sou o movimento apenas... 

Sangro-me em sangria de maçã, vinho e mel... Quem sabe assim saio algo realizável...

Uma música - Corinne - Metronomy

2 comentários:

Isa dora disse...

o que sabe da morte?

Samis disse...



o descontrole é também uma forma sutil de controlar
e o descaminho, um caminho


não se engane, meu caro