terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Né, blina?...


Detalhes
Indícios
Resquícios
Minúcias
Denúncias
Subentendidas
Confusas
Escusas
Explícitas
Malícias
Desvendas
Entendas
As legendas
Dos gestos
Das perguntas
Das dúvidas
E das brumas...

domingo, 28 de dezembro de 2014

O Inevitável manifesta-se

O fim
Ser e só
o novo
tanto e mais
o esquecimento
o passado
a fome e a sede
a alegria
o frio
a euforia de ser tudo
a calma de ser um
o infinito
a possibilidade
a desesperança
o cansaço
a dor
e tantos outrxs
inevitáveis

O óbvio... diante, na cara, queimando as pestanas e a tez, para onde quer que olhemos, lá, aqui, acontecendo, a vida, em toda sua dimensão e desmedida, em toda impossibilidade de fuga, envolvidos inteiramente pela integralidade, aguentando tudo que nos acontece, porque nascemos prontos para viver - aprendendo a cada dia a estar prontos para o agora... 

O óbvio... e inelutável...

O que nos resta? Temos escolha se todas as escolhas são possíveis?  Tudo está previsto, tudo é permitido... Viver, morrer, nascer, cair, criar, tudo faz parte, tudo é vida, é caminho, é mudança... 

Viver o inevitável... evitar viver é um engano... e o engano asfixia... respirar funda a vida, convidar-se e ir... 

sábado, 20 de dezembro de 2014

Sul

Só o nada e a surpresa não decepcionam... Se esperar que nada aconteça, que nada apareça e que nada venha, feliz será se nada concretizar. E se não, se nada não vier, mas, ao contrário, a surpresa resolver causar, mais nada se pode esperar...

Tel que tu es - Charlotte Gainsbourg

Zenbar, 06/12/14

Bel prazer

eu bebo beleza como beleza beijo beleza nado beleza cheiro o cangote da beleza danço a beleza pela beleza e com a beleza incenso beleza planto beleza tranço beleza transo beleza mordo beleza saboreio beleza amo beleza navego beleza mexo beleza acordo beleza pinto beleza molho beleza negro beleza durmo beleza espreguiço beleza vagueio beleza erro beleza vivo beleza nasço beleza vejo beleza sinto-a tanto que tudo que desejo beleza...

Daft Punk - Around The Word

Zenbar, 06/12/14

Ar (mor)...

I

Todxs nós temos duas biografias... dizia Milan Kundera... 

Uma dos amores que realizamos ou, talvez, se realizaram... mutuamente... E outra daqueles amores que nunca aconteceram... ou pelo menos, não extrapolaram nossa particularidade...

Uma vez eu vi em imagem e som > que dizia que o que nós vivemos e o que nós imaginamos é vivenciado da mesma forma pelo cérebro [ou pelo espírito?]...  O que pode ser interpretado com uma perversão metafísica da realidade... Ou melhor, que tudo que imaginamos nós também vivemos... Ou tudo que vivemos seria imaginação?

Acontece que entre amores que existem e amores que se imaginam, entre afetos que se tocam e afetos que só me afetam, equilibro-me, tonto e abandonado... 

Abandonei qualquer importância ao que não é... e vo(o) apenas no ser, seja real-imaginário, ou imaginação-realidade... 

Abandono-me de qualquer inquietação, conjectura tola, perda de tempo em não-ser...

Vivo... tudo que sinto, dentro e fora, foradentro... Imagino mundos... Mudo imaginários... Faço-me real na minha própria realização... sonho o que vivo, vivo o que sonho...

E amo viver sem reservas, sem paraquedas, sem confundir o que é com o que não é...

II

Imaginar não é confundir...

É preciso ler o mundo... Ler os gestos, ler as ações e relações que se passam ao redor, conosco, em nós... É preciso estar atento ao mundo, à vida, ao universo, dentrofora, foradentro...

E defrontar-nos com coragem ao que percebemos, nesta compreensão do que se nos depara...

Sem ficar alucinando e confundindo o que não é com o que é...

Imaginar é fazer ser o que queremos que seja... É possível e sensível desfrutar tudo que queremos que seja e é - dentro de nós...

O que imaginamos se semeia em nós... e nasce e floresce e dá frutos... no real...

Todo amor que imaginamos vira amor pele afora... mundo afora...

Mas todo amor que confundimos vira mágoa... E mágoa é melhor desrealizar...

Fundamos imaginação e realidade... E extrapolemos toda possibilidade de ir além...

Pradentro e prafora...

Ao som de Eat Yourself - Goldfrapp

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Azuis


Afeto. Aconchego. Próprio, mútuo, por tudo, simplesmente, debaixo da chuva fina, debaixo dos cabelos dela... debaixo do guarda-chuva.... debaixo da timidez ou da solidão, atrás das orelhas e debaixo dos nossos narizes... Aí está o afeto, aí está o bem-querer-viver que podemos escolher, que podemos balbuciar como a canção que tece encontros e mistérios...

Porque os amores são como a primavera... florescem... brilham... perfumam... e espalham-se pela grama, pela paisagem, pela lembrança... 

Porque o bem que temos, que sentimos, que exalamos e compartilhamos faz mais primaveras, mais estações, mais amor-es...  que tocam a pele, tocam o riso, tocam o âmago...

E todxs que queremos bem, e queremos amor, estão aqui em nossa intenção, em nossa emoção, em nossa canção... 

Terminei indo - A Banda Mais Bonita da Cidade 

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

TRANSGRESIONES

Todo mandato es minucioso
y cruel
me gustan
las frugales transgresiones
por ejemplo inventar el buen
amor
aprender
en los cuerpos y en tu cuerpo
oír la noche y no decir
amen
trazar
cada uno el mapa de su audacia
aun que nos olvidemos
de olvidar
seguro
que el recuerdo nos olvida
obedecer a ciegas deja
cíego
crecemos
solamente en la osadía
sólo cuando transgredo alguna
orden
el futuro
se vuelve respírable
todo mandato es minucioso
y cruel
me gustan
las frugales transgresiones


Mário Benedetti

"Ditos Diários" IX

Quarta, 15:13

Chega em casa, sol ainda brilhando energético no céu. Vê aquele recanto da área fronteira da casa, em cujo solo um sonho de horta e convivência ele tem. E decide-se: agora. Naquela tarde carrega troncos do pé de jambo caído pela ventania deixados na calçada do vizinho solícito. Capina a terra removendo pela enésima e, certamente, não a última vez, os matos que não tardam a resistir, a crescer, a piquetar, a mostrarem que serão os últimos seres da Terra. Livre o lugar desses seres indesejados, porém exemplares em luta, põe-se a posicionar os galhos multiformes e muitisemânticos de modo a organizar de forma agradável e sonhável aquele espaço: lugar de plantar, lugar de sentar e conviver, lugar de florescer, lugar de nutrir, lugar de sombrear e por aí vai. Findas duas horas de suor respingando nos óculos, pele levemente torrada pelo sol persistente, considera concluída a primeira parte da obra: o cenário está montado, faltam xs atrizes e atores: frutas, verduras, folhas, trepadeiras, flores, bancos e poemas. Ducha-se. Aquela água que cai do filtro azul transparente lava-lhe as forças e os ânimos. Recuperado e revigorado, necessita alimento. Sobe a ladeira suave de sua rua até a floresta, caminho identitário de sua comunidade, corredor vivo e chamegante de gentes qualquer hora do dia e da noite. Enquanto anda, avista objetos. Objetos estes que não são mais o que o sistema lhes designou. Agora são o que à imaginação aprazir. Baldes tornados composteiras, privadas tornadas instalações de pop-sonho-vaso-arte. Comprados pães para a ceia, parte em busca de mudas felizes para inaugurar seu jardim público-secreto. Vizinhos ausentes ou sem mudas, caminha de volta para casa. E no meio do caminho acontece a mágica mais linda que existe nesse mundo, a arte do encontro. Pois num´é que encontra uma vizinha inesperada, uma querida de longa data, de cabelos de África e talentos vários de paladar, entre tantas alegrias de se compartilhar. Ela carrega compras de comer para casa. Ele decide acompanhá-la. Afinal, sente-se todo inusitado, todo aberto ao momento-vivido, ao imprevisto acertado. Acompanha-lhe e põem-se a conversar - parte deliciosa da arte do encontro. "Deixa eu te contar, queria muito fazer algo na Casa Caracoles [espaço cultural onde, além de tudo, mora o moço]! Vamos conversar? "Que delícia! Vamos sim! Vamo jantar lá em casa? Comprei pão! "Ah, quero sim! Tava tentando evitar pão, mas na verdade tou é com desejo! [risos] Deixa eu ver o que mais posso levar! E assim foi, fizeram, foram. Da imaginação nasceu uma bela e única refeição, nunca antes vista ou experimentada. Multicolorida e supergustativa, cuja receita nasceu e se comeu ali, ninguém tem lembrança além dos gostos. E além de repartir-se o pão, a fruta, a cor da verdura, do suco, do veio da vida, repartiu-se e semeou-se e multiplicou-se ideias sonhadas nesse ambiente fecundo. Nasceu um banquete, flagrou-se um gnomo, riu-se do impossível que a toda hora transgredimos com nossa alegria-de-ser-mais...

Imagem: Alexander Jansson
Melodia: First Look Inside - Mark Holdaway
 

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

DesFronteiras


"A mulher que ele mais amou no mundo (ele tinha na época trinta anos) lhe dizia (ele ficava quase desesperado quando ouvia isto) que ela só se prendia à vida por um fio muito fino. Sim, ela queria viver, a vida lhe proporcionava uma alegria imensa, mas ela sabia ao mesmo tempo que esse quero viver era tecido com fios de teia de aranha. Bastava tão pouco, tão infinitamente pouco, para se encontrar do outro lado da fronteira além da qual nada mais tinha sentido: o amor, as convicções, a fé, a História. Todo o mistério da vida humana consistia no fato de que ela se desenrola em proximidade e mesmo em contato direto com essa fronteira, que ela não fica separada desta por quilômetros, mas apenas por um milímetro". Milan Kundera | O livro do riso e do esquecimento, p. 230

Morrer, conviver com a morte, vê-la e estar com ela. Falo da morte enquanto fenômeno. Nossa própria morte, ainda que estejamos "vivos". A cada instante morremos e nascemos. Parte de nós morre, outra persiste, mas sempre outra, transformada. Células e valores, cabelos e certezas, unhas e medos, pele morta, a gente morto, a todo instante.

Viver e morrer, ao mesmo tempo, é viver sem medo da morte. É sabê-la e aprendê-la, fazê-la transformadora. É viver a vida em toda vida e toda morte que existe em si mesma, em nós mesmos, sem pestanejar ou temer, porque do outro lado desta fronteira, tudo perde sentido e o que segura este sentido tênue é a coragem de viver.

É brincar de equilibrar-se, é brincar de arriscar, pular e voar...

Música Toca Aí - Neguedmundo

Imagem de Feminismo Poético

domingo, 26 de outubro de 2014

Buenos Caminos

O que é uma aventura? O que significa ter coragem? Não termos medo diante de algo novo, um caminho, uma pessoa, algo desconhecido?

I

Dormir num sofá alheio, de pessoas até então desconhecidas, muito bem acolhido por várias camadas de cobertores, muito bem alimentado por culinária caseira local e hospitaleira, entre dois gatos e dois cachorros, com bastante frio. O mundo, em sua arte de encontros, a humanidade, em sua mania de proezas, possibilita contatos impossíveis. Da moça de cabelos curtinhos que passa todo o dia produzindo desenhos animados em sua casa e que percorreu mochilando boa parte da América do Sul e do moço livreiro e devorador de livros e super falante e conhecedor de tantos assuntos conversados até breve madrugada, sempre guardarei amizade imensa.

II

"De onde es? Cual es su nombre?" As perguntas mais comuns e mais fáceis de se fazer em um albergue, praticamente uma regra geral de convivência, ou etiqueta. Um ambiente em que se você não falar com estranhos, você é estranho. Um ambiente em que todos se sentam na mesma mesa e conversam, brasileiros, argentinos, colombianos, chilenos, franceses, alemães, americanos, vanezuelanos. No idioma local, no idioma materno, no idioma que alguém esteja querendo aprender, na mistura de todos. Um francês simpático que ensaia algumas conversas curtas, um venezuelano sério, mas conversador, que fala russo, hebraico e outras três línguas e conta históricas sobre Angola, uma espanhola de cabelos cacheados, riso fácil, arredondado e um jeito cativante, um equatoriano que não fala coisa com coisa, um colombiano que deu em cima de mim, dois brasileiros barulhentos e estúpidos, outro cheio de histórias exóticas, muitos argentinos comunicadores populares, politizados, transformadores... Entre tantos outros perfis...

III

Uma tarefa talvez atrasada no seu tempo pessoal, talvez aleatória na sua história pessoal, talvez sem lógica na sua utopia pessoal. Mas ainda assim um motivo. Uma boa justificativa para conhecer outros lados e experiências ou simplesmente um vento que movimenta. Do cartaz entre mil cartazes naquela faculdade social e impactante à participação num programa de rádio, à viagem surgida de um dia pro outro para uma cidade mais acolhedora, muita gente, muitas conversas, vários trechos não muito compreendidos dum idioma ainda sendo desbravado...

IV

Uma língua, uma cultura, uma nação, infinitos mundos. Nas muitas horas de trem para a cidade dos olhos grandes e novíssimo sorriso redondo, nas horas de frio e vontade de ficar quietinho e escondido na toca, nas praças, nas esperas, nos intervalos quaisquer, dois livros vencidos no idioma estrangeiro! Um bloqueio em processo de superação, desobistruindo os caminhos interiores rumo a outras formas de expressar o que se quer, o que se tem, o que se vai... Interiorizando ou fazendo intuição, mesmo sem saber, a língua dos conquistadores com a qual agora fortalecemos uma identidade latino-americana.

V

Uma inspiração antiga, que remonta aos primeiros contatos com a língua espanhola em um curso de espanhol que partia da cultura latino-americana para aprender a expressar-se. Uma revista independente, de cultura, social, transformadora, que atua com pessoas em situação de rua. Por meio da venda da revista, eles podem ter uma renda mais digna. E ter acesso a outras oportunidades, arte, cidadania, expressão. Lá deixei pequenos gestos. Um aprendizado sobre criatividade em situações difíceis, persistência e paciência popular, educadora. Pequenas trocas sobre o que nos é imprescindível. De churros à realidade das comunicações na Argentina com a revista Hecho en BsAs.

VI

"Andar, andar, que um poeta não necessita de casa" (Cecília Meireles). O chão sob os meus pés se mexe, sigo sem pensar para onde estou indo. Andar por andar, somente. Andar para chegar mais longe. Longe é um lugar aqui dentro da gente. Andar é chegar mais dentro. Há tempos não lembrava o que significava andar tanto, preferir andar mais do que tudo, mais do que ônibus, mais do que metrô, mais do que motor. E ter um clima para ajudar (porque andar no frio, até certo ponto, é melhor do que andar no calor). Nas ruas portenhas e rosarianas passei dias tardes e noites de ruas e becos, naquela velocidade mínima que os pés proporcionam. É que andar a pé nos faz ver mais sentir mais ouvir mais. É lento o suficiente para o mundo se mostrar, para perceber os detalhes, para olhar para as pessoas sem correr risco de acidente (mas olhe pro chão, senão tropeça). É lento o suficiente para divagar, refletir, deixar o pensamentosentimento fluir, esvair, esvaziar e desabrochar uma vez mais. É lento o suficiente para dançar, sapatear, sambar, sentar num banco de praça e ficar, beber água, respirar fundo, sem grande esforço, devagar e sempre.

VII

E ver, não só olhar. Fotografar para mim é quase um gesto de viagem. Fotografar é um gesto inteiro, que demanda dedicação e integração. Observar atentamente tudo, todos, gestos, olhares, texturas, detalhes. Captar os momentos decisivos, em que acontece a mágica da vida - segundos sublimes que piscam constantemente diante dos nossos olhos. Os encontros, as percepções, os brilhos, as surpresas que vivem e se realizam em nós e diante de nós e conosco. Fotografar é também um gesto delicado - que pressupõe respeito e encontro, cuidado para não agredir. Às vezes gostaríamos de ser invisíveis ou nos sentimos invisíveis, como se pudéssemos flagrar o mundo sem que o mundo se dê conta. Às vezes as imagens só podem ser registradas em nossas retinas - e as melhores fotos serão unicamente nossas.

VIII

Aprendi que a saudade é um poço sem fundo. Nunca chega ao fim. Não vale a pena esperar o barulho da moeda, nem tampouco que se realize o desejo pedido (perdido). O melhor que a gente faz é viver o aqui e agora, celebrar tudo que se viveu, transformar o presente no sublime e ter certo que o amanhã será mais e mais - infinito somos.

IX


Viver é estabelecer lógicas, compreensões, fazer do absurdo normal, do normal, absurdo. Viajar por um tempo prolongado é fazer rotina o inusual - conviver com gente de todo o mundo em um albergue não tão aquecido quando gostaria - ir atrás de comidas diferentes e pagáveis em uma cidade semidesconhecida/conhecida. Acordar para tomar café, voltar a dormir, passar dias e noites de andanças, descobridanças e crianças. Conversar em várias línguas e ficar confuso. Rir, ir, estar só... e estar junto...

sábado, 18 de outubro de 2014

Amor Grátis


Só a gratuidade liberta...

Da posse,
Da expectativa,
Da carência,
Da falta,
Da ausência,
Da solidão...

A gratuidade é a simples realização da vida... a vida existe por gratuidade... o universo existe por gratuidade... tudo que acontece é gratuito... o tempo não nos cobra tempo... o ar não nos cobra ar... a terra não nos cobra terra... a vida não nos cobra vida... o amor não nos cobra amor...

A gratuidade nos faz leves, nos faz infinitos, nos faz livres, nos faz bem...

Desnecessário


Relação ou contato? Atração ou simpatia? Amor ou carinho? Toda relação é contato, mas nem todo contato é relação. Toda atração tem simpatia e todo amor tem carinho, mas a recíproca não é verdadeira (sintopenso eu). Como identificar o amor? Como diferenciar a atração da simples simpatia? Que critérios podemos ter e nos quais possamos confiar? Uma forma de olhar, uma forma de tocar, uma forma de estar? Existe alguma ação que inequivocamente seja conclusiva?

Sentir a sensação de estar e querer estar com alguém para além de qualquer limite, expressar afeto de forma irrestrita, aprofundar-se nelx de forma visceral... mas... se dar conta de que tal sentimento/vontade não é recíproco... ou ter a sensação ou possibilidade de ser, mas ter dúvidas, sentir qualquer incerteza... e... no final, perceber/dar-se conta de que de fato, apesar de todos os sinais aparentemente favoráveis, de fato não era recíproco... Desnecessário... Toda frustração e sofrimento é desnecessário... E eu estou evitando...

Recentemente venho (in)conscientemente desenvolvendo um mecanismo psicológico e emocional de quebra/bloqueio/corte/morte. Quando estou apaixonado por alguém e me dedico a esta pessoa, buscando aproximar-me, chegar-lhe, alcançar-lhe e sentir-lhe comigo, mas, em dado momento, sinto que tal encontro sincero não está acontecendo, de que não há uma mútua vontade de estar junto amorosamente, quase de forma automática mato este sentimento. Corto-lhe as raízes, retiro seu ar, faço o possível e o impossível para desfazer-me dele. Este é o resultado imediato.

Contudo, continuar convivendo com esta pessoa requer um processo de manutenção deste bloqueio. E sinto que este processo tem efeitos colaterais. Como um certo rancor ou ressentimento com o fato, com a realidade, com o movimento da vida, ou comigo mesmo, como me responsabilizando por ter me colocado nesta situação, ter me permitido atrair por quem não estava atraídx por mim. Evitar este sofrimento de certa forma me alheia. Este bloqueio com aquela pessoa, me parece, de algum modo tende a afetar outros contatos e relações. Venho me desacreditando da amorosidade, me ressentindo com ela. Há tempos mais que suficientes a amorosidade me causa mais desgosto do que gosto.

Se o máximo que desfruto destes casos é um carinho aparentemente excepcional de certas pessoas para comigo, que, contudo, não se trata de amor, então, me parece, (in)conscientemente, que o máximo que devo/posso dedicar a alguém é esse carinho intenso... que esta excessiva amorosidade me parece nociva e desnecessária, assim como essa frustração me parece nociva e desnecessária.

Talvez o que eu esteja matando não seja a amorosidade em si, mas qualquer mínima sombra de querer amorosidade. Se vier amorosidade do carinho, que seja, se não vier, que seja. Absolutamente não deve fazer diferença. Sinto-me como se estivesse me tornando ou querendo me tornar indiferente à amorosidade, querendo torná-la aleatória, qualquer-coisa. Dessacralizando ou desimportando este amor excepcional e pessoal por alguém. Se acontecer, nem me darei conta a princípio. Quando me der conta, não hei de ficar mais ou menos feliz por isso. Que a vida com ou sem amorosidade pessoal de alguém não seja melhor ou pior. Que nos sintamos tão bem com ou sem, tanto faz, tanto fez.

Para a outra pessoa, fará alguma diferença? Alguém que, afinal sinta amorosidade por mim, sentirá algo errado ou a menos ou faltando nos meus gestos? Poderá ela diferenciar o carinho intenso da amorosidade? O que diferencia a amorosidade do carinho intenso, do contato intenso, do estar intenso? Há diferença?

A questão é...

Essas pessoas de carinho intenso mas sem amorosidade... elas não gostam de beijo? (as que eu conheci, pelo menos)... elas o evitam, elas viram o rosto, elas rejeitam... por quê?

E isso afeta diretamente meu carinho/contato/estar intenso... então como saber se posso ou não beijar? Devo parar de querer beijar as pessoas?

Antes sempre achei estranho ou inadequado perguntar “posso te beijar”? Mas agora me parece inevitável. Nesses casos estranhos em que a dúvida paira, que fazer? Roubar o tal beijo e ver o que acontece tem se mostrado um belo brejo... O desgosto pelo não querer é muito pior quando o damos... preferível nem ter tido um beijo assim indigesto. E, como sempre, estou evitando tudo que não for bom pra mim...

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Interrogações contínuas


"O amor é uma interrogação contínua" Milan Kundera | O livro do riso e do esquecimento, p. 183

I

Porque não se trata apenas de um sentimento ou estado de ânimo/espírito. Amar é buscar, aproximar-se, identificar-se, transformar-se com x outrx, duvidar-se. Não uma adoração alienada de um objeto inanimado, mas uma con-vivência, uma prática constante de conhecer x outrx, de ad-mirar-lhe, no sentido de vê-lx profundamente e assim poder perceber sua beleza e unicidadade. E no conhecimento e co-presença dx outrx, cuidar-lhe e crescer-lhe.

II

Contudo, existe um amor sem interrogações, sintopenso. Acredito distinguir duas dimensões de amor. A dimensão pessoal e a dimensão impessoal. O amor impessoal é aquele pela vida, pelo todo, e, indiretamente, por tudo e todos, pelo simples fato de serem vida e todo. Aquele que ama sente-se parte da vida e do todo. Nesse amor, amamos os outros porque amamos a nós mesmxs e amamos a nós mesmxs porque amamos a vida e o todo. Nessa dimensão, o amar é ser, algo em si mesmo, que se basta, ou melhor, que a tudo contempla, de tudo é parte/todo, é atemporal, panorâmico/amplo, dérmico. O amor pessoal, diferentemente, ama não o que nos une, mas o que nos particulariza, o que nos faz únicos, inigualáveis e não imitáveis. Por isso se aplica à pessoa em si, não à vida e ao todo. Ama-se a pessoa por ela ser quem ela está sendo, diferente de todos xs outrxs. Quando esse amor se expressa em nós, não se aplica a todxs, mas a alguns/mas que, por motivo ou ação conhecida ou misteriosa, nos atraem e com xs quais nos sentimentos conectados. Há pessoas que queremos conhecer, nos aproximar, ad-mirar, com a qual queremos compartilhar e contribuir. Estas pessoas nos despertam perguntas inesgotáveis e para suas perguntas temos infinitas respostas, pois cada pergunta desvenda, desperta, chega um pouco mais dentro dx outrx e de nós mesmxs, nossos movimentos e renovações. Por essx mesmx motivo/ação, não sentimos nenhuma ou quase nenhuma vontade ou interesse de fazer certas e tantas perguntas aos outros, com os quais não sentimos tal conexão pessoal de amor. Esses demais, amamos, sim, mas impessoalmente. Podemos vir a conhecer-lhes, a nos aproximar deles, a ad-mirá-los, mas não se trata, nesses casos, do amor pessoal. Amamos nesses demais a vida e o todo, ainda que na revelação de sua beleza individualizada. Nessa dimensão, o amar é estar. Ele é temporal, sexual (em muitos casos, pra não dizer todos), detalhista e epidérmico.

III 

Em cada um de nós se expressam e coexistem o amor pessoal e o impessoal, em correlações constantes, em medidas e intensidades diversas. Se uma pessoa vivencia predominantemente o amor pessoal, ela pode acabar confundindo x outrx com o todo, tornando-x um muro que a impede de amar a vida e o todo e até mesmo as demais pessoas de forma também pessoal, pois tão profunda é a relação pelo diferente, pelo particular, que se distancia ou perde a dimensão total, ampla, una. Se, ao contrário, vivencia predominantemente o amor impessoal, tal qual um sacerdote, tanto ama a tudo e todos que sente-se incapaz ou mesmo acha que não deve amar pessoalmente alguém, julgando que o amor pessoal limitaria ou impediria seu amor impessoal, universal, amplo. Ama a todos como o todo, logo, na dimensão pessoal, não ama ninguém. A equação dessas medidas realiza uma infinitude de resultados/experiências. Imaginosinto que um caminho em que nos permitamos vivenciar da forma mais intensa ambos os amores, pessoal e impessoal; em que estejamos atentos e abertos para perceber a beleza do todo e da vida em tudo e em cada um, mas, que, igualmente, possamos também nos permitir perceber que uma/s pessoa/s, deveras, nos atrai/atraem de forma singular e nos deixemos seguir este movimento que em nós se desperta, nos permite - essas duas vivências complementares e indivisíveis (sintopenso eu) - realizar um amor transpessoal, que alcança profundamente dentro e fora, tudo e todos, nas dimensões pessoal e impessoal, profundamente e detalhadamente, de forma ampla e também particular.

IV

Talvez uma intuição, uma sugestão, ou uma invenção minha tudo isso. Mas me parece inevitável tanto e tais amores, por isso amo mais e mais quero amor...

Fever Ray - Seven - bebendo...

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

desfaz


Observo a realidade que existe inexistindo
Surgindo a cada segundo repentinamente
Espalhando-se pelo vazio fonte de tudo
Como energia, frequência, cor e som
Através de dimensões que se interligam

Há de se concluir que a continuidade é uma ilusão
Deixamos de existir a cada instante
O passado é uma ficção biográfica
A personalidade é um condicionamento
A maior liberdade é ser livre de si mesmo/a

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Manifesto de libertação das bucetas aladas, dos caralhos de asa e dos cus voadores


Todo foder ao tesão!
Grito explosivo impossível de proibir
Contra toda opressora castração
E toda dominação broxante
Bucetas, caralhos e cus do mundo
Asas orgásticas avante


Livre leve lascivamente
Abertas pernas e as mentes
Ante o gozo ninguém pode resistir
Abaixo às calças! e venha compartir
Um tanto muito da sua pele inteira
Pois o corpo é todo genital

E sexo utópico é a cura para todo mal...

30 de julho

Desfazendo gêneros...


Homem e mulher, masculino e feminino... binarismos...
Maniqueismos?... Oposições?... Reducionismos?...

O que significam esses conceitos? O que é um homem? O que é uma mulher? O que é masculino e feminino?

Vivendo numa sociedade dominada pelo machismo, o que implica um determinado conceito de homem e masculinidade dominantes que implica, pela força da opressão, em um determinado conceito de mulher e feminino dominado, como podemos entender e/ou aceitar esses conceitos?

Recuso, reverto, inverto, perverto... 

O que é forte, rude, grosseirx, pesadx, rígidx, durx, frix, insensível, tolx, sérix, tosco, cai, desfaz... o que é fracx, macix, suave, leve, quente, sensível, sábix, festivx, riso, belx, vai, toma, lambe, alcança e dança... 

Rompo separações, quebro muros, destruo janelas, rasgo roupas, mordo peles, causo suor e gozo, pronto.

Grito - The End of You Too - Metronomy
Imagem - Ramon Cavalcante 

Contra)(dições...


Quem não tem? O que não tem? Não existem dualidades, mas contradições... Paradoxos, que integram impossivelmente... caminhos pelas pedras, quebras pelos redemoinhos, trevas pelos brilhos, cacos entre nossos casos...

Mar-raso-abissal [ céu-azul-tempestuoso [ faz sol faz chuva [ aqui agora [ dentro fora do meu cor-ação... 
O que bate dentro é a tinta que tece este som inquieto de palavras invisíveis coreografadas por serem irresistíveis...

Só me interessa o inevitável. Todo o resto, eu evito.
Só me resta o impossível. Todo o resto já sou.
Só me cabe a transgressão. Abandonei o controle e o limite...

Segura minha mão - pouse nela sua vida
Cause em mim você
umedeça escorra cresça
junto longe tudo gozo

Gemido - Reservoir - Metronomy

domingo, 14 de setembro de 2014

Ira


Contatos, relações, ausências, instantes, proximidades, abismos... Direções, movimentos, afastamento, ilusão, brincadeira, sugestão... 

Ela¹: Tão sorridente, olhos tão certeiros e redondos, presença tão alegre e cativante que inevitável é não chegar-lhe e entregar o que ela pedir. Mas, prudência ou pura impaciência, não se engane, tudo que ela te dá se desmancha no ar. Ela é o próprio furacão, cuja passagem é avassaladora, mas segue seu caminho sem que ninguém possa impedir (e assim deve ser), tropicalíssima. 

Ela²: Ri. Ri gostosamente, riso fácil, única ou principal ruptura do jeito calmo, comedido, suave dela. Olhos de floresta, cabelos de fios de água, conversa como a madrugada, em busca da luz de cada estrela vagando erma pelo infinito. Qual a medida do toque de sua pele? Qual a possibilidade primaveril de seu desejo? Desnecessário pensar. As flores nascem e se vão, de todo forma.

Ele³: Tanto carinho por pura contradição. De sua falta dá o que não tem. Abunda o que desconhece, tão longínquo se tornou a memória dos cuidados que recebeu. Se antes, ser mal-acostumado, pedia, queria, catava gestos afetivos nos meridianos de sua pele, hoje é terra arrasada, de flores do campo filhas da ausência de cuidado, do descaso,  da liberdade pura do ser sem. Às vezes mente-pensa que dá como sugestão do que gostaria de receber. Mas, não receberá. Quem recebe dele se contenta, desfruta... e esquece... ou devolve qualquer coisa que, ante o acúmulo insensível, insignifica-se. Navega num barco chamado autonomia, em que, para onde se olha vê-se tão somente mar, sal e sol. Pele ressecada, cabelo encaracolado como os crustáceos que fazem de si mesmos casas ambulantes, couraças belas, delicadas, mas fronteiras.

Mira Ira - Karina Buhr

Imagem - Chico Ludermir

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Beduíno-montanhês



Processos de transformação, ciclos de vida e morte, caminhos diversos, de tempos, ritmos, temperaturas particulares. 

Num tempo longínquo passou muitas eras no calor agradável dos trópicos afetos. Foram lugares de muitas tempestades tropicais, sim, devastações, conflitos, escassez provocada, é certo, mas também de boas colheitas, aprendizados rachantes e poderosos, pazes e ninhos.

Mudou. Mudou-se.

Saiu do trópico (ou este saiu dele). 

Alguma coisa como as planícies patagônicas de gentes e sentimentos tomou-lhe de súbito. Lugares frios em todas as estações, inóspito, irrespirável, isolador. Desavisado, inesperado, o novo clima existencial, tão antitropical, o arrasou, despreparado que estava para as provações que se sucederam. Não sabia como se cuidar, se proteger, se alimentar, respirar, se aquecer naquele universo vazio, seco e frio, tão grande onde nada se via, tão quieto que nada se sentia.

Tão só que eremitou-se, tão nada que monasticou-se. E morreu.

Quando novamente acordou, preveniu-se: aprender a viver com o cinza gelo da montanha deserta. E intrinsecou-se, enregelando-se, enrigecendo, insensibilizando o que não tinha mesmo o que sentir.

Três ou quatro nesgas de sol, de temperatura pouco mais aprazível, rapidamente iludiu-o. E tão rapidamente desapareceram que, qualquer sol inútil quer agora desperceber... Inútil, prefere desesperançar-se de sol, tão mais premente e tangível é o nublado inquebrável dessa atmosfera austral. E segue pela paisagem sem mais nada a fazer, criando só, por distração, compartilhando agoras pelo absurdo apenas, jogando sementes por ironia e teimosia marota mastigada com tédio, deixando-se ser por indefinição... Desfazendo-se até inexistir... Inexistência pura como o infinito...

Soa - Erik Satie - Gymnopédie No.1

Ódio


Quando quero me desfazer do que me faz mal, do que me incomoda, daquilo para o qual não tenho mais paciência, seja um sentimento, uma lembrança, uma vontade ou expectativa, tenho dois caminhos. O primeiro é forçar-me a ignorar e esquecer tal elemento de agonia, provocar-lhe a inexistência. 

O segundo é odiar.

Há coisas ou emoções ou vontades ou o que quer que nos persiga, que de tal forma se entranhou em nossos porões e abismos, nossas retaguardas e indefesas, que o caminho suave do esquecimento e da ignorância não basta, não funciona. A cada nível de eliminação memorial, reaparece num lugar mais além, mais aquém, mais dentro, mais inferno.

Nesses casos, mais graves e sérios (e sério para mim é uma palavra terrível, tudo que é sério é péssimo), resta a segunda opção, mais diretiva, incisiva, imperativa. É preciso agir pela ação, não pela omissão. Atacar, ao invés de desaparecer. Destruir. Matar. Morrer.

Não deixa de ser um processo espontâneo e inevitável. Se o esquecimento não funciona, aquilo que incomodava, que agoniava, passa a irritar, impacientar de forma intensa, como uma alergia, como uma praga, um mosquito insuportável de proporções humanas que não nos deixa dormir e precisa morrer.

O que eu chamo de ódio é um processo de destruição intensa. É uma energia de morte sobre algo indesejado. É, também, um método de cuidado, afinal. De cura. Odeio, para o próprio bem.

Cansa, esgota, demanda energias penosas, o ódio em si não faz o bem, mas o prepara. Que jeito?

Findo o ódio, findo o objeto ou direção do ódio, terra limpa e arrasada, mas agora disponível para florescer, revive-se.

E, de preferência, para além dos mecanismos e caminhos de cura e tratamento, intensificar os caminhos e mecanismos de prevenção, de autocuidado a priori, prévios, permanentes. Evitar tudo que causa ódio, já esquecer tudo que merecerá ser esquecido. 

Desintoxicar a (im)paciência...
Caminhar...

Música - The Storm - Patrick Watson 
Imagem - Joe Mangrum

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Simples?

Quem acha que sabe, acha que pode afirmar... e para isso, utiliza muitas palavras...
Quem acha que não sabe, prefere perguntar... e para isso, precisa de poucas palavras...

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Um

Uma cama, um parque, uma grama, uma tarde
Uma areia, uma calma, uma onda, um sorvete
Um cheiro, um chamego, uma leitura em voz alta, uns pezinhos
Um calor de corpo, um sono de amor, um banho apertado, umas velas iluminando o quarto
Umas canções compartidas, umas palavras no ouvido, umas mordidas safadas, um prazer impossível
Um cantinho de sabores, umas lembranças colecionadas, umas roupas, um repouso
Um presente sentido, uma viagem deitada, uma aventura de vida, um ser mais,
mais nada...

ciente...

Explicação 

O pensamento é triste; o amor, insuficiente;
e eu quero sempre mais do que vem nos milagres.
Deixo que a terra me sustente:
guardo o resto para mais tarde.

Deus não fala comigo - e eu sei que me conhece.
A antigos ventos dei as lágrimas que tinha.
A estrela sobe, a estrela desce...
- espero a minha própria vinda.

(Navego pela memória
sem margens.

Alguém conta a minha história
E alguém mata os personagens.) 


Cecília Meireles

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Des-ti-lo




- Falta não é a palavra, eu chamaria de demanda. Existe no humano, ou ao menos em mim, uma demanda, diria imprescindível, por afetividade, relação profunda, carinho e cuidado...
- É uma boa forma de encarar... Nos livra dessa dependência de umx outrx que está além do alcance... Nos guardamos na nossa compreensão e na nossa própria autovivência...
- Na real, é uma questão de cansaço... sentir-se precisando do outro cansa. Só nós mesmos nos revigoramos. Só nosso estar próprio nos realimenta a paciência de existir. Cada instante em que deixamos de seguir-nos por um outro que não está aqui, é um instante de impaciência, de disparate, de despropósito.
- É como uma destilação de si mesmo. A cada instante, nos tornamos um ser mais concentrado de nós mesmos, acumulando-nos e depurando-nos, desfazendo-nos dos processos tóxicos, percorrendo serpentinas frias que evaporam tudo que for danoso.
- Justo.