Ela tentou seu melhor. Ou seu possível. O possível.
(?). O que é o possível senão... não o que era ideal, ou preferível, talvez, o
buscado, o imaginado e intencionado, ou o esperado, projetado, inventado ou
sonhado pela/s outra/s partes/pessoas envolvida/s, mas pura, reles e
(in)felizmente o >de fato<. O que foi, e por ter sido, não foi evitado,
não foi de outra forma, senão da maneira que aconteceu, logo, inevitável, logo,
o possível.
O possível, uma porta de vai-e-vem. Quando nos
voltamos ao que “foi” possível, recordamos – respiração suspensa: às vezes com
pesar, amargura ou amargor, às vezes com nostalgia, satisfação ou ausência ou
presença de arrependimento. Quando miramos tudo que “é” possível – fôlego
acelerado: o infinito, o sonho, o delírio, o querer, o desejo, o movimento
incessante da vida, o fluir, o correr, o ir além... Até o impossível cabe no
“possível” para frente.
Ela tentou. Mas tentar não basta quando encostada
na parede, diante do pelotão. Tentar não importa, no final da outra língua,
seca por lágrimas ou raivas, frustrações ou faltas, ávida por torcer as sílabas
até sair-lhe o fel. Tentar nem mesmo
existe, no correr alado dos boatos, das histórias sem fim que agora se contam
do tal (a)tentado.
Acontece que cada pessoa que passa pela porta de
vai-e-vem da sua vida se torna acionista da sua história. E em certos mercados mais
agressivos, cáusticos, ou mesmo violentos, quanto pior a história contada, mais
ela se valoriza. E mais créditos e tons de veracidade ganha, e mais apoios e
mais impacto e mais reconforto e mais... não sei.
E assim, não importa o tentado, o cuidado, o amado,
o querido, o ouvido, o chorado, o esforçado, o sofrido, o suado, o cansado, o
sonhado, o recebido, o crescido e perdido de ambas as partes – ela, e/ou sua
história, está irremediavelmente queimada.
Até o dia em que se fez e/ou fará possível uma milagrosa
reconciliação universal. Até o dia em que ela pode/puder apagar-se das mentes,
memórias, lembranças e sentidos de toda e qualquer pessoa que, sem avisar-lhe,
sem dar-lhe conta, sem minimamente comunicar-lhe, roubou-lhe dela, destruiu seu
eu que a precede, sua pré-história, sua pós-história, sua auto-história, seu eu
para as outras pessoas, seu eu em relação a qualquer pessoa.
Apagados todos os vestígios de si mesma em qualquer
pessoa que ela deixou passar da sua varanda interior, permitiu sentar nas
almofadas do seu íntimo, convidou para deitar com seus sonhos e salivas,
enfim... qualquer pessoa que, então, chegou perto demais, se queimou com o fogo
do possível, e resolveu apagar esse incêndio com agentes laranjas e bombardeios
noturnos de napalm sobre a história dela.
E, assim, finalmente ganha novamente para si mesma,
restituída e restaurada sua dignidade imaterial, imagética e historiográfica,
viverá consigo e tão unicamente consigo, tão feliz quanto alguém que se perdera
de si, ou fora tirada de si, e finalmente se renasceu.
13/05/16 – 4h23, passado, pretérito e póstumo
diante de suas perspectivas futuras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário