quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Morrer na praia


A última vez que me deixei levar 
(mentira, mas vou me esforçar)
... levar por essa atração aleatória (?) 
que nos acomete, 
essa vontade estranha, 
inexplicável, 
bonita, 
que nos dá, 
de saber quem é essa pessoa, 
ir até ela e dizer oi, 
saber como está, conhecer.

Esse acontecimento raro, bobo, que bem deveria ser ignorado, para melhor estado de nossa saúde emocional, nossa energia vital, que às vezes feita luz de vela, bruxuleia com ventos fortes, empalidece.

Mas foi. Te vi. Um dia te encontrei por acaso (?) num ônibus. Te percebi. Um dia o universo me colocou de alguma forma em contato com você. Observei. Senti. É, é difícil de evitar. É como uma hemorragia interna, de afetos espontâneos. Não se sabe bem de onde tá vindo, nem por quê, nem como foi. Mas acontece.

Por um bom tempo larga distância geográfica. Vez por outra trocas quaisquer. Até enfim te ver, de fato, com olhos e demais sentidos. E ouvir, de fato, com ouvidos e demais sentidos. E sentir, um tanto, com o corpo o máximo possível.

E me levas... sugeres o pior lugar para o encontro. O mar. O lugar sagrado, lugar que me faz mais frágil, me transparece mais, me perco, me deixo.

Teu cabelo curto, teus olhos bonitos, tua voz que demorou pra me acostumar, tuas conversas gostosas, identificações boas, partilhas atrativas, teu bikini vermelho, transparecendo mamilos alegres de água fria de mar, teu contar e estar, tua pipoca mágica com limão e curry, tua tapioca pequenina com farinha de linhaça, com pasta de amendoim com goiabada, teu chá encantador, teu convite para brincar no parque... tu.

Acontece que hoje eu sou uma ferida. Bem podia ser um novo pseudônimo, Fê Rida. Acontece que nos últimos três anos/décadas o amor morreu. Nos últimos três meses morri pela enésima vez, mas dessa vez morri mais um pouco muito, diferente de todas as outras mortes... Acontece que me exauri de afetar-me pelo amor que me sobra, pelo querer que me excede, pelo ir aonde não me querem, pelo morrer na praia, pela inútil leveza do ser... 

Foi bom. Feliz. Foi. E só. Não acredito em mais nada. Ainda não renasci. Ainda estou morto.

Repetindo o mantra Quero Nada, Quero Ninguém, Sou Apenas um Movimento. 

Song on the beach - Arcade Fire - Músicas passadas não movem moinhos...

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