Empurrada pelas forças maiores que ninguém sabe de onde vem
nem o que as governa. Jogada na planície vasta, sem horizontes, do fim do
mundo, do vazio de todas as companhias, do frio constante das ausências.
Impelida a retomar um certo estado de ser mais bruto, rusticizada pela aspereza
do exterior, insensibilizada pelos calos, pele feita couro pelo vento cortante
e o desconhecimento de afago. Estômago selvageado pela necessária digestão de
pedras emocionais, traumas e dores de todo tipo. As unhas esconderam-se ante
camadas de seivas coloridas de vegetais perigosos, que ora seduzem-na para o
envenenamento, ora minimizam seu desânimo pelo efeito brilhante do sangue de
árvore. Prepara-se para fazer-se caverna por de trás de seus cabelos e feições
fictícias. Acostuma-se com a recente e urgencial insensibilidade ante as
ilusórias afeições. Seus dentes se tornaram aptos a dureza dos dias e sua
língua não se conforma e sangra a solidão da noite. Bicha-loba cuja arte é
guardar-se, reservar-se para o inverno profundo e não se sabe mais o quê.
Porque o presente, de toda forma, não está nada respirável. Perdida em sua
floresta temperada interior poderá dedicar-se às suas alquimias e invencionices
que a si bastam. Restrita à máxima (ainda que aquém) autosatisfação que puder
proporcionar-se. Não pode contar com nada além. Todas as seres que lhe cercam
transmutaram-se em hostilidades e indiferenças cuja motivação e sentidos
ignora. Vaga palidamente sem maiores pretensões que saciar fomes insones com o
pouco que lhe está ao alcance. Reduzindo-se a sua completa insignificância,
cujo sonho é ser o grão de areia que jaz na praia negra.
Em alguma estrada escura rumo ao Ceará austral. 19h58, quinta, 18 de agosto de 2016
Em alguma estrada escura rumo ao Ceará austral. 19h58, quinta, 18 de agosto de 2016
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