quinta-feira, 31 de outubro de 2013

sede e gole

Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?


Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?


Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.


Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.


Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.


Carlos Drummond de Andrade

O Velho e o Moço - Maglore (música de Los Hermanos)

sábado, 26 de outubro de 2013

Só agora


Como se sentes, perguntou. Me sinto assim, assim e assim, respondeu, dando-lhe beijos, desconversando. Beijo e só. Um instante, que ativa na pele brilhos e depois se apaga. Mas então resolveu lhe dizer. De ontem pra hoje reescrevi algumas coisas de mim, alguns despropósitos, desconstruindo umas insistências. Achei mesmo que você nem vinha, já tinha plano b, c e d. já tinha desistido do b e do c, mas o d me parecia muito bom. Entendi algo hoje deitado na cama, sem me levantar. De ontem para hoje eu era apenas o despropósito e a insistente desemoção que acaba comigo. Até aquele dia eu estava bem, muito bem. E para acabar com a monotonia do estar-bem, me caio em mim, desfolhando um pouco, chafurdando na alma. Mas acordei limpo, sentindo um ar melhor, concentrado, como um suco feito da fruta e sem água. Um pouco chateado por meus processos criativos descobritivos madrugada afora acabarem com meus planos matutinos, mas, recomposto. Então o telefone toca e não era mais um lembrete, mais um alarme, mais um espasmo eletrônico que eu quase ignoro. Era tu. Como me sinto? Sinto-me. Um pouco de cada vez. E cada vez, outra coisa. Surpreendendo-me com o que me surge de ser. Desesperando, ato de não-esperar enquanto ação. Desexistindo, ato de largar o existido e ir. Desatingindo, desaninhando, desensibilizando. Sei lá. Isso agora, neste instante. Tudo ele dizia enquanto a olhava, enquanto ela o olhava, enquanto o vento de ventilador soprava sem muita vontade, a cama antiga suportava seus pesos e as pernas, sem querer saber de nada disso, apenas se emaranhavam. Sem coragem, me acostumando a não contar, a não ter certeza. Ontem escrevi: estranho não saber quando será a próxima vez que vou te encontrar, ver, abraçar, se será hoje, essa semana, esse mês, como será, perto ou longe. Tudo incerto, nas mãos do mar (aberto). É estranho. Não há nenhuma continuidade. A incerteza é plena, a única certeza. Ter carinho hoje não implica qualquer coisa amanhã. Tudo fica para trás e para frente nada. É estranho. Esqueço. Escrevi, na verdade, ao longo da semana, terminei ontem, não sei que horas. Essa falta de construção, esse castelo de areia que são nossos encontros, me acostumo com eles, antes que o mar venha e faça a praia outra de novo. É assim. Estava pensando sobre quando e com quem se há de construir de novo. Naquele filme que assisti ontem tinha cenas tão bonitas de olhos que se constroem mútuos, recíprocos, que se vê bem que cada olhar sedimenta, fortalece, faz algo maior, no olhar seguinte, olha-se mais além, sobre tantos olhares e tantos estares que se seguiram. Nosso olhar é apenas um agora. Sem antes nem depois. O antes é um antes. Um belo antes, um antes querido, que muito bem alegra. Mas é antes. Tá lá, antes. O agora não é uma construção do antes. É um novo agora, outro. Sem depois, só agora. E estás atrasada. Levantaram-se, ao som de música antiga, para um lanche reconfortante de panetone com doce de leite e suco de goiaba docinho. Um pouco de pressa, um abraço mais, e foram sobre duas rodas para deixá-la na praça dos anjos quebrados. Ainda mais abraços para ela naquela noite.

Buenos Aires - Dom La Nena - uma música

Ou

Adónde vás? - Paté de Fuá - outra

Após assistir - Teus Olhos Meus

Insã


Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabe sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.


Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no elipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.


Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.


Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.


Carlos Drummond de Andrade

Playground Love - Air - música repetida não completa album

Imagem: Mariana Caldas

Ou esse?

desato


tato
minha pele é insaciável
minha pele tem razão própria
tem argumentos, tem emoções, uma linguagem caótica
minha pele é uma sociedade a parte
que se parte nessa sociedade sem
tato

ardo
porque tato tem sede
deserto
nesse mar seco
farto
mas tudo anda tão escasso
ardo
mesmo sem combustível


Life turned upside down - Badly Drawn Boy - música com teias de aranha

Imagem: Mariana Caldas

derivo


a praia. é sempre a praia o cenário, o lugar. o mar. é sempre ele que mostra, que ensina sendo. na praia, então. caminhando. o céu está ficando azul clarinho de novo, mais uma vez. daqui a pouco a terra vai nascer de novo, essa parte da terra, que está com ele. a água não está fria. mas também não está quente. o vento sim está frio e não tem casaco que esquente. o jeito é se abraçar e se concentrar na vista, nos barulhos do vento, dos cabelos cobrindo o rosto, da espuma nos pés. o jeito é se abraçar e deixar a areia fazer carinho nos dedos, no calcanhar que deixa marcas que não durarão mais que horas. o jeito é se abraçar e esquecer das pegadas. fazer outras. andar. dá para se esquecer das pegadas? porra, pegadas que ficam na pele, no nervo, na vida... Ainda que elas não estejam mais lá, tenham se apagado, não esquecemos delas... como conviver com a não convivência? como conviver com a própria vida sem nada além de si mesmo? procura se preencher, se preenche tanto, sempre preenchendo um pouquinho mais, isso e aquilo, experiências realmente boas, verdadeiras. preenchendo. mas, aquela velha história, não somos autosuficientes. como sobreviver à deriva, esses espaços desérticos entre um continente e outro, essa semente flutuando no meio do nada de água, tanta água e nada... a semente não aguenta navegar a vida inteira. nenhum navio pode existir sem a costa, sem a praia, sem água doce, que dê para beber, que dê para beijar, que cuide do lábio, da boca, do interior inteiro, que alimente. um pouco de calmaria instigante, que motive, que acolha, como aquela luz do entardecer, realmente querida, realmente preocupada com a gente. que quer ouvir nossas histórias, que pergunta e escuta, de verdade. e que conta histórias, sem que se pergunte. aquela luz que muda de cor, do azul, enrubesce, de tanto beijo, arroxeia, quando respira, aprofunda azul.

Dois em um - Mais uma Vez - essa música

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Oxum


Dançar conforme o ritmo: do arrepio
no movimento: do desejo
com a música: do corpo próprio
seguindo os passos: interiores

Cabelo longo e afro, vestido florido, alarajando, escuro e justo da cintura aos seios, saia rodada, solta, clara e leve para a ginga das pernas. Um casal. Ele, cabelos curtos, roupa azul listrada, jeito simples de ser, mas harmonioso de envolvê-la. Uma dança primitiva, originária, de batida forte e gestos delicados, de mãos, sorrisos e quadril. Tem momentos em que ela está de costas para el e ela dança com a nuca dela. Depois eletrizando os pés e logo tudo vira beijo, um passo de beijo, um bailado de beijo, movimentos de beijo. Cada um abrindo portais com outros mundos, de outras sensações e outros mundos mais.

20/10/13 - 00:41 - Recife

É d´Oxum - Lázaro Ramos

Imagem: Chico Ludermir

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Azul

 "Gratuidade" - amor pelo amor que tem e dá, e pela pessoa que ela é e pelo bem que se quer, sem esperar ou querer condições;

"Não se deixar atingir" - pelo que quer que faça entristecer, sentir-se só, esquecido ou não amado. Viver tão somente o que se vive, muito ou pouco, é o que é e quero viver o que for;

"Amadurecer" - apreender o aprendido, ser além do que antes foi, superar os erros, buscar compreensões e vivências mais plenas e profundas, transcender o passado para fundar e realizar um outro presente.

Absense to Excess - Opala - dançando

Espontânea


Douradas flores
de penugem
nas tuas coxas
Suave sono
entre colo e música
Tua boca anuncia
o prazer sem palavras
Teus olhos veem
até os ossos da alma
A expressão do meu
corpo denuncia
meu desejo 
que não morre
hoje
Meu coração contigo
não bate, dança.

19/10/13, 20:56
Recife

Evaporar - Rodrigo Amarante - música

Ensaio com ela - Contos de Recife (III)




Sexta, dezoito do nove: Ela o acordou de oito e meia por telefone com um "bom dia, carinho". O resto da manhã transcorreu em tarefas atrasadas, urgentes, inevitáveis antes da viagem que chegou quase que sem se notar. Ela, que era morena de cabelos e de nome, tinha um amor familiar para cultivar nas primeiras horas do dia antes de poder partir também. Uma correria danada de dois cheios de afazeres, que no último instante conseguem chegar, com o tempo contado, quase ido, na rodoviária. Os últimos dois lugares do ônibus no último horário possível - quase um milagre, quase um absurdo. Mas, porém, contudo, separados - um na frente e outro atrás. "A gente pede pra um deles trocar pra gente ficar junto", disse ele. "sério que você vai fazer isso?", ela duvidou, "lógico!". Mas as duas criaturas mau humoradas tinham um certo fetiche por janela, coisa da velha infância ou sei lá. "E agora?" e assim que o ônibus partiu ele caminhou pelo corredor para ver se havia cadeiras livres 'na janela'. E não é que tinham? Três! "Mas e se subir alguém?", indagou o homem que estava na cadeira ao lado da dele; "bem, vamos esperar". E subiu! Maldição. Duas, três, quatro pessoas. Era o fim. Mas ainda assim, foi conferir mais uma vez e 'eureka!', ainda uma na janela, a primeira cadeira. Enfim juntos... mas pairava um certo estranhamento de distância. Tentaram dormir (afinal, cada um dormira só um fim de madrugada), primeiro separados, depois pernas umas sobre as outras (era o espaço que era pouco ou outra coisa?), e foram se achegando, aos poucos. E sem conseguir dormir. E as palavras foram surgindo, histórias, conversas, papos do dia-a-dia. Mas aquela sensação, pra ele, de afastamento, o incomodava, como uma pequena ferida que teimava em arder. E assim, se afastava mais, olhava pela janela, ausentava-se enquanto conversava, sentindo que aquela seria uma viagem doída, bem doída - tão perto, mas tão longe. "Escrevi uma vez que sempre que te encontro, é uma reviravolta, um virar de cabeça pra baixo, uma volta completa perdendo o próprio eixo... pois é... essa semana está a mesma coisa... te encontrei duas vezes, na primeira te sentia, estávamos perto, tudo estava tão suave, intenso, interior... e na segunda, nada... queda, ausência, novamente... e sinto o mesmo agora... que difícil, hein!" sentenciou ele e se seguiram cinco, seis horas de exploração de cavernas, algumas já bastante percorridas, reexaminadas, tentando se entender o que passou despercebido, outras surgindo, inusitadas, difíceis, escorregadias. "Acho que naquele momento eu perdi a confiança, a entrega a você... como se não pudesse mais me deixar atingir por você, pelo que quer que você sinta" ela confessou e um 'clic' disparou nele. Era algo que ele pressentia, intuia, que tinha algum tipo de certeza mas que não tinha certeza - uma perda irrecuperável, um caminho sem volta. "É isso, você não se deixa atingir por mim, não dá para chegar, não dá para encontrar", concluiu. "Para viver o que você queria viver, o que poderíamos viver - juntos, faltou maturidade, ter a coragem de fazer o que era preciso para que não nos machucássemos (tanto?), que respeitássemos os caminhos um do outro, as fragilidades, as necessidades, a construção individual... e nossa..." ela completou e mais um 'clic'... a palavra maturidade remeteu a uma infinidade de sensações, lembranças, aprendizados, conclusões, transformações nele... um estado final ou um processo permanente? Como estaria agora? Naquele momento realmente não se sentia maduro (?) e ele concordava com tudo que ela dizia, aceitava doloridamente... maturidade seria respeitar o próprio ritmo, as próprias limitações para não passar por cima de tudo (em especial do que se ama) em função de um universo caótico, seria ir aos limites da sinceridade consigo e com o outro, o que significa ter calma, pois sinceridade é também entender bem o que se está sentindo, o que se quer, o que se deseja e necessita, para então expressar nas relações... "Aiai", pensou ele, "um carrossel essa minha vida, ora perco o que acontece porque fico refletindo, medindo, calculando demais, ora perco porque me jogo sem pensar, sem considerar o mínimo, o máximo, o óbvio, o mais querido e sagrado que está diante de mim/nós. Agora volto, reinicio, recompreendendo/sentindo o refletir/sentir, o voar/cuidar, o cair/querer. Maturidade - a fruta cai, morre e germina muitas vezes em sua vida... estou aprendendo". O ônibus atrasou muito, chegando um hora e meia depois do horário previsto e eles já estavam atrasados quando pisaram naquela rodoviária longínqua. Correram, desta vez acertando o caminho, sem errar o ônibus (pois um ano antes foram bater em Olinda por descuido bobo de recém-chegados), mas ainda tão absortos em conversas - agora mais leves - que quase não se deram conta que já era hora de descer! Um dois três, no albergue rapidamente se arrumaram e foi preciso um táxi para não perderem o horário. Um dois três, chegam! E ainda deu tempo de restabelecer o corpo com uma boquinha, descobrir tesouros naquela feirinha subterrânea, dar voltas e filas de pulseiras roxas, azuis, amarelas para entrar no teatro onde aconteceriam os shows principais daquele Festival tão querido para ele, marcante em suas formas de ser. Lá dentro, sentam-se estrategicamente posicionados para ver tudo de pertinho - prontos para pular pra junto do palco. O primeiro a se apresentar era "café com leite"... estava ali só para passar o tempo e naquele momento eles estavam juntos, bem perto, que até as bocas quiseram estar mais, desfrutar da delícia que só elas sabiam fazer/aquecer/ser... beijos sinceros de amor raiz, querer flor, estar céu e mar... E além de beijos, carinhos, pernas e mãos, a noite ainda reservava comédias cruzadas de um lado e de outro, de uma figura engraçadíssima que parecia estar debutando seu primeiro show e sentia-se dona de sua cadeira cativa diante do espetáculo: ah como ela ficou amargurada quando descobriu que não são bem assim as regras do jogo, principalmente quando todos deram um salto e cobriram sua ingênua visão sentadinha... é preciso enfrentar a plateia para vivenciar um show ao máximo; o moço de olhos grandes e vivazes, cabelos negros partidos ao meio, alongados em curvas nos lados da testa eram um riso a parte, pois seus olhares já diziam tudo. O segundo a se apresentar era ele: a expressão musical, sonora, sensitiva, espiritual, mais próxima do que foram os primeiros e mágicos momentos dos dois - como ouvir aquela voz, aqueles versos, sem estar automaticamente ao lado dela? Sem segurar-lhe a mão? Tomar banho com ela, dormir agarrado ao seu corpo a luz de velas e envoltos em incenso? Ela sorria, ouvia atentamente, chorou por instantes (seria ela se não houvesse uma lagrimazinha ao menos?) e ele, além de ouvir e sentir, abraçar e degustar cada centímetro de suas peles que se tocavam, se apoiavam, se permitiam, não resistiu e a fotografou, os fotografou, para memorizar aquele instante em cor e luz. Os dois show seguintes foram gostosos, de novas surpresas, voz conhecida e charmosa e ela deitada em seu colo, olhos fechados, com os mais longamente belos cílios que ele jamais pode suportar - sucumbe diante deles sempre. Ao fim, uma cálida sensação de bem-estar, de um dia repleto de vida, alegria, aprendizado e estar... depois da pequena missão impossível de conseguir um táxi naquele mar de gentes e telefones, partiram para o último ritual: a sanduicheria da madrugada mais gostosa que já se inventou - esbaldaram-se naquela camada polar de cream-chease e um suco de laranja estupidamente gelado e voltaram caminhando ao nascer do sol, um azul de sábado "capim limão"...

Capim-limão - Cícero - essa música

Heart to Tell - The Love Language - música

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Anti


Parece que eu moro em outro país. Parece que você já mora em outro país. "Fico feliz por você" e do outro lado da linha se faz uma ligação múltipla demais para conectar. A qualidade da chamada está ruim. Não transmite sentimento. Estou sedimentando. Ainda não decidi o que fazer.

P.S. Acho que o trauma/dor foi tão que você ficou imune à mim. Criou anti-corpo.

Feist - Lonely Lonely - música

Brisa


Ando escrevendo o que a gente já não é, o amor que a gente já não tem, o afeto que já não se troca, o estar no outro que já não está. Mais uma literatura emocional para "enfeitar meus domingos", minhas terças, sextas, madrugadas sem data nem hora. Uma forma divertida de "avarandar meu tédio", porque você continua tão e mais "bonita nessa luz comprida". Eu vou parar de ignorar ou fingir que não notei que você "desespetou sua casa daqui". Mas é que eu ainda estou "arrumando as gavetas". E "mudando de lugar alguns" sentimentos.

Misread - Kings of Convenience - velha música

Cruzadas


Você tem um certo prazer em me dizer: que eu não devo chegar muito perto de você, que eu não devo ter muito afeto com você, que eu não devo morder seu lábio, que eu não devo querer passar muito tempo com você. Você usa várias linguagens. Entonação da voz, expressão, energia da presença, palavras invertidas, ações cotidianas. Eu estou aprendendo. Eu estou aprendendo.

Devendra Banhart - Brindo - desmúsica

Porta


Eu tenho dançado muito. Por qualquer motivo, com qualquer música, em qualquer lugar. Mesmo quando a câmera de vigilância de um condomínio vigiado está me olhando, mesmo quando tem outra pessoa no elevador ou na parada de ônibus. Mesmo que alguém pense alguma coisa (que bom que alguém pensa alguma coisa!), eu tenho dançado muito.

Deve ser porque quem dança a tristeza espanta... e, eta bixa cabida!

Porta, Retrato - Cícero - vai uma música?

Dancing with myself - Nouvelle Vague - melhor essa!

Já dizia Richard


Tudo que a gente sonha acontece. Às vezes na hora errada. às vezes em outra vida, mas acontece. 

"Eu queria muito ouvir, passei muito tempo esperando você me dizer que queria estar só comigo de novo"...

Disse a menina com sua boca delicada, sentada com as pernas cruzadas, o cabelo preso e os olhos de lua cheia. 

"Eu só queria isso, estar com você e só"...

Disse ele, meio que do fundo da alma, fazendo um eco nos sentimentos mais fortes e reverberando nos seus cachos presos por um lenço.

Mas agora foi a hora errada. Já foi. Foi em outro tempo e isso não aconteceu... Tudo aconteceu assim, e não de outra maneira, como por exemplo, se ele tivesse seguido sua vontade e cansaço de fazer mais uma viagem e não tivesse ido pra Ilha de Itamaraca... Mas foi e ela não quer mais. E ouvir os ecos dele talvez tenha servido apenas para atiçar a ironia da vida, pra ela saber que o sonho dela se realizou, mesmo sem ela querer (mais).

12 Quedas - China - música

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

"Ditos Diários" I

Segunda-feira, 10:47

Acordar em um quarto penumbra, que ainda por cima mantém uma temperatura friinha não importa que horas seja do dia; Acordar debaixo de cobertores, debaixo de travesseiros, sem lençol de cobrir a cama sob o corpo, pois as pernas e rebuliços da noite tiraram ele todo, sem ideia de que horas sejam, dia, se existe alguma razão para acordar naquela hora ou se se pode continuar cultivando a inércia de praticar o nada; Acordar e te ver, ao lado, em cima, no ombro, de olhos fechados, de olhos semiabertos, mirando-me com um jeitinho fofo de sono, sexy de recém-acordada, tarada de quem já nasceu pronta para alegrar meu dia: chegar mais perto, envolver-te, cheirar-te, afugentar meu sono com teu calor estimulante, teus seios ensolarados, teu sexo adocicado e belo, que tão gostosamente me lambuza... Acordar com tua língua me deliciando, me endoidecendo, me subindo... Acordar e só ficar pertinho de ti, acarinhando-me os cabelos e a nuca, os ombros e o caminho elétrico da coluna, do meu bumbum e das minhas pernas... Acordar e tomar um gole de água gelada, beijar-te em seguida, sentindo a umidade dos lábios despertar nossos rostos... Acordar e não levantar, só para ficar um pouco mais enroscado, um pouco mais ali, nesse sonhar acordado...

June - Pinback - música

Dissolver


Senta na cadeira de cinema antigo, de centro de cidade antiga, de cidade de sua infância e sonho. Senta e desfruta um filme que atravessa a janela do mundo e chega tão longe que transporta, alimenta. Naquele instante, ela também está ali, no mesmo círculo urbano de memória e cor. Passeia por ladeiras enquanto morde com sua boca pequena de lábios grossos e saborosos o sabor da tapioca ancestral. As paisagens antes-colônias marcam-na de uma beleza que só o passado consegue ter. Ela se alegra de uma companhia querida, familiar, que cuida dela tão avó cinematográfica de mesas fartas de café-da-manhã, de doces, muitos tipos de frutas e bolos e sucos. Ele se entrega ao estado de espírito da cidade-rio, da cidade-ponte, da cidade-mangue. À noite, algumas horas depois, cada um caminha ao seu jeito, de um lado diferente, pela grama mal cortada de cidade universitária, rumo à origem do som. Sabem que seguem para o mesmo ponto, e como quem não se preocupa que todos os caminhos levem à lua, chegam ao ritmo da música ao mesmo tempo em que seus passos encontram um ao outro. O céu está nu até de estrelas, apenas um enorme manto negro-azul de cor profunda como a vontade de entrar. E a temperatura do mundo cai, como se o calor deixasse o mundo para concentrar-se neles. Pois ao se encontrar, se encontraram. E este encontro nada mais é do que uma fisão de corpo-alma que produz os átomos para criar universos... Este encontro muito ainda é um chegar ao mar de todos os rios, depois de percorrerem todas as distâncias, todas as paisagens, erosões e areais, alcançam a unidade que se evapora e chove: carinho, querer, cuidado, partilha.

Pelo amor do amor - Vanguart - música

explícito

Teu beijo, morena, é uma droga - explícita. A cada tragada de lábios sobe um universo pelos pelos, descem pelas correntes elétricas do corpo nervosamente, roçam pela inconsciência de um prazer que não dá pra entender, só sentir e querer mais... A cada dissolver ácido/doce de línguas o mundo muda de cor, ou a cor muda de mundo... as formas viram sensações, as sensações ganham forma, as tuas... a cada inspiração em teu pescoço, beijando-te o cangote, meus nervos viram flores, meus poros vislumbram guloseimas, perco a sensação de ego e sorvo o ser em ti... verto o estar contigo... desembarco na tua vida-instante que rasga o tempo, abandono-me, ou melhor, reinvento-me em todas as direções pelo efeito que faz o teu sentido em mim... E vicia, como sei, vicia, como hei de evitar?

Terminei indo - Música de China interpretado por A Banda Mais Bonita da Cidade

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Defensa de la alegría

 
Defender la alegría como una trinchera
defenderla del escándalo y la rutina
de la miseria y los miserables

de las ausencias transitorias
y las definitivas

defender la alegría como un principio
defenderla del pasmo y las pesadillas
de los neutrales y de los neutrones
de las dulces infamias
y los graves diagnósticos

defender la alegría como una bandera
defenderla del rayo y la melancolía
de los ingenuos y de los canallas
de la retórica y los paros cardiacos
de las endemias y las academias

defender la alegría como un destino
defenderla del fuego y de los bomberos
de los suicidas y los homicidas
de las vacaciones y del agobio
de la obligación de estar alegres

defender la alegría como una certeza
defenderla del óxido y la roña
de la famosa pátina del tiempo
del relente y del oportunismo
de los proxenetas de la risa

defender la alegría como un derecho
defenderla de dios y del invierno
de las mayúsculas y de la muerte
de los apellidos y las lástimas
del azar
y también de la alegría"


Mario Benedetti


Música - Vayan a ser - Onda Vaga 

Imagem: Luma Diniz

"A casa é sua, pode morar"



quero estar com você

Estar só

e com você

Nas calçadas universo paralelo da avenida oito entre dimensões de corpo e espírito, ele encontra um lar de braços e olhos úmidos e céu de madrugada... E se tivesse dito antes que o que mais queria era estar com ela - sem mais, com mais...? mas se tudo acontece da melhor maneira, não dava para ser antes, senão naquele instante...

"no baú vai ser achado, a sua estrela renascerá"...

Vidas como obra de arte feita com as tintas do ser, como uma viagem espontânea e louca cheia de tesouros e perdas, como uma colcha de retalhos que se rasga, mas que se costura ainda mais sensível, bonita...

O brilho nos olhos expressam o que às vezes não se consegue ver. E ele não consegue ficar longe dela... e se está com ela, não consegue conter-se, é mais forte que ele isto que nem nome tem, mais que amor, mais que desejo, mais que intimidade, mais que bem-querer... mundos entre mundos de laços e encontros e gestos de ser-tão, ser-com... 

Baú - Mombojó com participação de Vitor Araújo - outra música

Tempo de Carne e Osso - Céu e Mombojó - mais outra

Imagem: cd de 11º aniversário de Mombojó

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Longe


Assiste àquela telona debaixo do céu exibindo registros de nordestes fronteiriços. Caminha entre rostos e cenas e trilhas sonoras. Nada em mar, rio, lagoa, mergulhando fundo em uma imensidão marrom esverdeada salpicada de luzes orgânicas puras. As paisagens de fora e de dentro caminham papeando prazeres e dores, cambaleando entre o estar bem e mal estar... que será que se encontra no mundo? Atrações, contrações, solidões, encontros sutis, outros por vir...

Mahmed - Quando os olhos se fecham - música

Imagem: Catarina Santos

domingo, 13 de outubro de 2013

festejou


Festa, risos, brindes lá em cima. No último andar daquele albergue na Glória (ou seria Santa Teresa?), rua Hermenegildo de Barros, número 19, todos celebravam, cantavam, se divertiam. No segundo andar, corredores vazios, escadas silenciosas, portas fechadas. Uma porta trancada. Naquele quarto de nada menos que seis camas (cinco vazias naquele instante), no alto daquele beliche balançante, dois faziam sua própria festa, numa dança tão deles que dispensava música, em um ritmo de respiração ofegante, de bocas secas em exasperação uma c´outra, corpos descobertos, despertos, imersos, expressos... A calcinha listrada azul e branca, os cabelos ondulados castanhos dela, cacheados fugidos dele, as mãos unidas, apertadas,  o prazer suado, gemido, rangendo a madeira, umedecendo os lençóis,  imagens/sons de uma cena-êxtase, um sabor puro, uma vontade toda... Transa mais tantas transas mais... e calma um no ombro d´outro, e respiração profunda, e pele na pele sentida, e leves de estarem juntos...

Faaca - Mombojó - música 

Escrito em 11/10/13 - Barra de Camaratuba (PB), num caderninho azul amarrotado que se perdeu na viagem. Reescrito na minha mesinha mística na Vila.

: eu


Eu? eu... eu?! eu! eu: 
eu/ (eu) eu.. eu... eu.... 
eu?
e!u, e-u, e?u
e´u
"eu"...
eu...
eu eu
eu +eu
êu
-eu
: eu...


eu?
eu?
eu! eu> e=u eu> eu>

:eu:
éu
eu:
!eu
"eu"
eu
e
u!
e
u?
eu
eU
e u
e    u
e        u
e             u
e                   (u)
[eu]
>eu<
eu¹
eu²
eu³
euº
... eu




                                 com partir
com                                  partir
compartir?

eu-compartir

com    partir-sepá
          participar

eu com
partir
com
(partir)
com>partir
com
compartir eu?
compartir...

Meu psicoartista intrapessoal receitou: vá para uma praia deserta, em treva, e atreva... uma praia nua, sem lua, e sue... uma praia que brilha, teto de estrelas, e queira... uma praia e mar, ninguém mais, e paz. Descubra que faz em ti.

Olhe para o universo, diverso, esse céu estrelado que te faz hipnocriar, que te desnorteia, mas que ao mesmo tempo acolhe, te encolhe, te escolhe... e solte teus bichos, teus gritos, seus conflitos, ritos, detritos... descubra o que há no espaço entre eu e tudo... crie o que há entre eu e tudo... 

Se te sentes sem "eu", invente, lembre, renasça... muitos eus que te estão sendo sem mais nem menos, por acaso, de propósito, por birra de ser sendo...

Nesse momento de tanto elx (outro/a), lembre: eu.

Escrito em 11/10/13 - Barra de Camaratuba (PB), num caderninho azul amarrotado que se perdeu na viagem. Reescrito na minha mesinha mística na Vila.

First breath after coma - Explosion in the Sky - música?

Imagem: Diana Coelho

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Semanas atrás...

Mate-me
Como quiser
Como você for
Como se você quisesse

Venha, não se atrase
A hora que você marcou
E não contou
Que ia matar
Apitou no alarme
Que soou cheio de alarde
Tanto que arde
Os dedos da sorte...


Escrito há algumas semanas atrás... um tipo de premonição... ou pósmonição, porque chegou atrasado...

Noite virada, de compreensões de morrer...

Música - Dino vs. Dino - Far From Alaska


Eu realmente não tinha registrado, processado, entendido, compreendido. Foi anulado pela minha mente, meu espírito, meu sentimento. Hoje resolvi reler aquela conversa e vi o que eu não tinha visto. E tudo ficou claro. E fim.

Baú aberto


Amor, palavra nômade...
Que de boca em boca
de um dia pro outro
deixou tudo e mudou
Cambiou as paisagens e
adereços, o penteado e
o estilo, as direções e
línguas, muda até a 
cor e o timbre...
De tempos em tempos muda.

Mas o que há além da 
palavra? Que significado
ou produção de sentido? 
Que apego ou desapego?
Que efemeridade e permanência
imemorial?

Acontece que hoje o amor
é mais... nunca menos
Não pode subtrair-se ou 
deter-se, como a
água que segue seu
curso sem que obstáculo
possa detê-la, através do
tempo enfim...

Este amor ama tudo...
Ele é uma ação, não um
sujeito; é um caminho,
não um destino; um
início, nunca um fim...

Logo, este amor jamais
termina ou apaga. Ele 
simplesmente muda, mas
para mais, inundando a
praia de sua umidade,
aprofundando-se nas
areias dos seres, alcançando
seus subterrâneos, nutrindo
suas raízes, emergindo
novamente em flor...

Amor nômade
Amor venal
Arterial
epidêrmico
estético
elétrico
mágico
múltiplo

Perguntando-se sempre
como amar mais...
E não se perdoando quando
se sente incapaz de fazê-lo...

Amor nômade
natural
simples
Que nunca deixa de amar
Ainda que na ausência.

08/07/12
01h20

Baú - Mombojó - mais uma música

Imagem: Jana Joana

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

menos


Cada encontro suscita tantas emoções, tantas mudanças, reviravoltas, que urgem escreverem-se, entenderem-se, acalmarem-se nas palavras que possam ser re(gistradas)/digeridas...

Não um pêndulo, não uma roda gigante, não um balanço, mas uma trilha com escaladas e quedas, descidas, vales, ladeiras... bruscas, abruptas, que causam rupturas e rachaduras em si, no suporte mais firme da decisão, na estabilidade mais tenaz da escolha... 

E às vezes parece uma dança solo... às vezes parece uma velha história não-escrita, ou escrita e não vivida... ou simplesmente uma loucurazita de um momento de dois ou meio...

Nas muitas estações que nunca se repetem, mas são sempre outras, desdobrando-se, despindo-se, inventando-se, são muitas, insones, eufóricas e disfóricas, criativas e suicidas, descubro mais uma: o inverno da pele, a nevasca do afeto, o tremor da falta de toque... cada estação enlouquecida num universo desequilibrado, em que só os desequilíbrios cantam, ora suavemente, ora estridentes e ensurdecedores...

Nota: amostra 101.013,19 - o tato continua ausente...

Si tard - Ludivine Sagnier - trilha de Les Chansons d´amour

Mariana Caldas: imagem
 

Porta de vai-vêm...


Aprendi contigo, entre tanto, a sentir a lágrima e os olhos transbordarem... talvez por contato, por trauma, por costume ou inspiração, meus olhos umedecem mais, acordam e como para espreguiçar, choram... A emoção aprendeu a liguidificar, moderninha...

Aprendi a sentir, a me sentir mais, tanto, que desvendei mistérios (espinhosos) e minérios (tão duros e dolorosos) que pareciam imutáveis, invisíveis, como falsos reinos e míseros exércitos que atacam e defendem: o quê? Desarmei... e fui abandonando as fortalezas...

Tensionastes, tensionas, tensionavas... até o limiar da dor, da quebra. Me quebrastes e sinto-me então/ainda tão quebrado - esse estado de de´ser.

Hoje (agora? depois?) sou um poço de emoção... Quase que não penso, apenas sinto; ou quase que só penso sobre o que sinto, como sinto, porque, pra quê e pra onde sinto... Estou chegando ao ponto da nâusea de/ao sentir... dá nos nervos, dói nos nervos - do espírito...

Aprendi contigo a perceber e a chegar mais no outro... tanto, que 


desaprendi... 


Estou tentando de novo...

Aprendi a sonhar tão junto, tão perto, que o sonho se confundiu nos corpos de cada um... agora não sei que fazer... Sonhando de novo comigo é outra coisa.

Aprendi, afinal, num processo que está me matando (isso é mal?), a realidade violenta da autonomia... mas tem sido uma autonomia tão sem que ainda falta tanto ser preenchida de anatomia, fisiologia, sinestesia...

E não se pode esquecer que é preciso apenas um mínimo para fazer espuma e que a água que lava o corpo, também lava a mortalha.

Aprendendo, 
........dentro, 
........doendo, 
........desprendendo... 

Valsa pra lua - Vítor Araújo - essa música

Mariana Caldas: imagem

Respirando


I

Pra mim
Você sempre vai ser
Uma lembrança triste.
Uma lembrança triste,
porque uma lembrança.
Mas,
Tudo bem.
Que triste só a lembrança
Você não está aí.
Você não está.

02h59

II

O ventilador não quer pegar
A dor não quer pegar
O calor que não está

Escrevo tudo olhando com
uma lupa a emoção
E deixando o raio de sol ofuscar e distorcer
E tridimensionar
A largura, a extensão e
a profundidade de meu sentir.

03h04

10/10/13

Duas cores - Mombojó - aquela música

abriu

mais distante que o horizonte eu voo...

Sem rimas na porta de casa


Esqueceu-se de esquecer... memória traíra!
O não esperar depende da ignorância
Não procuramos a mesma coisa, ausência
Eu deixei minha vontade na última esquina
Para o caminhão de lixo levar embora

O caminhão de lixo é um grande amigo
Leva teto, leva chão embora também
Leva tudo que você quiser, menos mato e quintal
Mas esqueceu de levar uns saquinhos de querer
que eu deixei empilhados na porta de casa...

Rene Aubry - La Grande Cascade - música uma

quarta-feira


Minha quarta-dimensão afetiva morreu na quarta feira. 
Ela morreu de fome porque não tinha amor na parte das frutas
Nem junto dos legumes, muito menos onde fedem os peixes mortos de amor

Minha quinta-dimensão afetiva esqueceu seu nome, carinho
Porque até memória dos dedos se apaga com a aspereza do tempo
Ao tocar a mesma corda que há muito está calada

Minha sexta-dimensão afetiva preferiu não acordar
Fez do subterrâneo um não-lugar de não-sonhos
E transformou o despertador em música-ambiente

Minha última-dimensão afetiva tirou férias por justa causa
Foi tão excessiva em seu ofício de querer
Que a oferta excedeu a procura e pediu falência...

Para animar o bar - Cícero - uma música

domingo, 6 de outubro de 2013

(in)Gentes



Em mim existem uma multidão de dores. De vários tipos, tamanhos, sensações, origens e destinos. Com cada uma transpassa-me uma relação, sentidos, experiências, memórias e estados de ser. Como personagens ou figuras no meu universo íntimo interior e transpessoal, descubro-as, conheço-as, lido com elas, aprofundando ou superando, convivendo ou ignorando...  E, assim, tornam-se parte do elenco de minha cena intermitente, parte do roteiro, da rubrica, da prepar´ação do ser, do figurino, do cenário, da expressão do eu na cena... Essa multidão de dores, também plateia de meus atos, às vezes se levantam e vão embora no meio da fala, às vezes vêm conversar ao baixar das cortinas, ou então mandam um bilhete inquietante. Uma multidão de dores, afinal, porque viver é um gesto de sentir, e se não doer, é porque não sentimos nada...

Magic Spells - Crystal Castles - música

sábado, 5 de outubro de 2013

Palavras enredadas em Camurupim


I

Ser não é uma condição a priori
Ninguém é
Todos vêm a ser
Nos tornamos
E estamos sempre
tornando
Entornando
Para um novo
porvir...

II

Eu carrego muito
para não precisar
carregar nada
Minha leveza tem
mirante e sotão
São estantes e mais 
instantes de memória
que quebram na
praia e viram
água...

29/09/13 - Num balanço de rede em Camurupim (RN)

Yann Tiersen - La dispute - música

Espeleologia


Conhece-te... aprofunda-te... conhece-a/o, aprofunda-a/o... explorando lugares escuros, caminhos difíceis, desvendando câmaras escondidas, saliências apertadas, avança, tateia... mapeia... compreende esse emaranhado de reentrâncias, espaços, vazios, espessuras... ilumina o que antes não se podia ver, o que se esqueceu naquele fosso, naquele vão... Em cada cantinho descoberto, acende velas, põe tapetes, abre janelas, deixe o ar entrar... 

nas profundezas de si há longínquas cavernas onde habitam o que por muito ignoramos... Na medida que nos aventuramos nesse se conhecer, cada vez mais fundo, cada vez mais subterrâneo, abissal, podemos chegar a lugares escorregadios, terríveis... que podem desabar sobre nós, enterrando-nos até nos reencontrarmos... ou que, de tão apertados, acabe o ar e, sufocados, nos perdamos...

Mas o ar se restabelece, novas paredes se seguram e os pedaços que ficam vamos reorganizando nesse salão imenso, amplo, livre, que se abriu com a destruição...

E, ora desfrutando, ora redescobrindo, vamos expandindo esse labirinto infinito que é nosso ser...

Ainda se perdendo, mas se encontrando mais...

Uma música - Frevo por acaso - Cícero 

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Reino da Alegria


Um movimento firme, como velas cheias n´um mar intenso com horizonte imenso pra seguir adiante
Sentindo uma confiança enorme nas rochas da praia
Que se dissolvem a cada segundo de beijo salgado
Um movimento que se cria, recria e multiplica
E se motiva pela aventura da inspiração e do risco...

Something Good Can Work - Two Doors Cinema Club - uma música

Te Ver


Hoje eu me senti muito 
bem ao te ver...
Acho que estou pronto para 
te descobrir
Como alguém novo
diante de mim.

Hoje sou completamente diverso de quem conhecestes
Olho pras fotos antigas e
não me reconheço
É lindo aquele casal
Mas não sou eu...
Nem é você...
São pessoas de um mundo 
guardado no infinito
diverso de agora...

Hoje aprendi uma
autonomia suficiente
para descobrir-me próprio
e tu passou por veredas que te nasceram 
novamente

O outrora é agora uma imagem sem a gente
E agora damos novos passos
pra frente.

02/10/13 - 2h50, sem conseguir dormir de musicar e lembrando do encontro do fim da tarde...

Uma música - Infinito - Onda Vaga