quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Dissolver


Senta na cadeira de cinema antigo, de centro de cidade antiga, de cidade de sua infância e sonho. Senta e desfruta um filme que atravessa a janela do mundo e chega tão longe que transporta, alimenta. Naquele instante, ela também está ali, no mesmo círculo urbano de memória e cor. Passeia por ladeiras enquanto morde com sua boca pequena de lábios grossos e saborosos o sabor da tapioca ancestral. As paisagens antes-colônias marcam-na de uma beleza que só o passado consegue ter. Ela se alegra de uma companhia querida, familiar, que cuida dela tão avó cinematográfica de mesas fartas de café-da-manhã, de doces, muitos tipos de frutas e bolos e sucos. Ele se entrega ao estado de espírito da cidade-rio, da cidade-ponte, da cidade-mangue. À noite, algumas horas depois, cada um caminha ao seu jeito, de um lado diferente, pela grama mal cortada de cidade universitária, rumo à origem do som. Sabem que seguem para o mesmo ponto, e como quem não se preocupa que todos os caminhos levem à lua, chegam ao ritmo da música ao mesmo tempo em que seus passos encontram um ao outro. O céu está nu até de estrelas, apenas um enorme manto negro-azul de cor profunda como a vontade de entrar. E a temperatura do mundo cai, como se o calor deixasse o mundo para concentrar-se neles. Pois ao se encontrar, se encontraram. E este encontro nada mais é do que uma fisão de corpo-alma que produz os átomos para criar universos... Este encontro muito ainda é um chegar ao mar de todos os rios, depois de percorrerem todas as distâncias, todas as paisagens, erosões e areais, alcançam a unidade que se evapora e chove: carinho, querer, cuidado, partilha.

Pelo amor do amor - Vanguart - música

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