terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Tao



Quando perdem a noção de respeito
As pessoas se voltam para a religião
Quando elas já não acreditam em si mesmas
Elas começam a depender da autoridade.

Lao-Tsé, Tao Te King


Ele busca o conhecimento de si mesmo. De que forma? Questionando-se. Sobre tudo e em todos os aspectos. Avalia as mínimas e máximas possibilidades. Tenta não fugir dos medos e trevas interiores, elucida suas dúvidas através da reflexão lógica e interpreta os acontecimentos segundo um encadeamento racional de fatos, mas sempre levando em consideração a psicologia das emoções envolvidas. No entanto, também ouve com atenção sua intuição e emoção, sabendo ser esta uma fonte de sabedoria inerente e essencial. De tal modo intenta se conhecer e, consequentemente, passa a ter uma maior compreensão sobre si mesmo, que pode também valorizar sua capacidade de realização e pensamento, não temendo nem sentindo-se inferior à ninguém. Porém, esclarecido do próprio valor e ciente da beleza da vida e do potencial humano, igualmente reconhece o valor de seus semelhantes expressa nas diferenças e peculiaridades de cada um. A esse sentimento de valorização de tudo e de todos ele chama de 'respeito'. E sabendo perceber e valorizar a beleza e riqueza tanto da natureza quanto da humanidade, como também de si mesmo, faz dessa conexão que percebe entre seu 'eu' e o 'tudo'/'todo' sua maior espiritualidade. Permite-se, assim, transcender os limites materiais, deixando sua alma mais liberta para experiências extracorporais ou extrasensoriais. Igualmente, sente no contato com o outro e na aproximação de sua alma com outra uma experiência de riqueza inestimável e, humildemente, lembrando-se de todos os caminhos que percorreu para adquirir a sempre incompleta e passível de evolução consciência de si, procura auxiliar os que o rodeiam a também questionarem-se e conhecerem-se, descobrindo os tesouros interiores, os quais, sendo tão e unicamente pessoais, são inalienáveis. Certamente que, sendo ele tão imperfeito quanto seus iguais, possui dificuldades em ajudar ou simplesmente acompanhar os que o cercam n´uma jornada através da consciência e do autoconhecimento. Mas a primeira lição ou idéia que tenta transmitir é que a única autoridade verdadeira é a de sua consciência sobre suas ações e seu desenvolvimento espiritual, que não há nenhuma autoridade exterior verdadeira e que as forças que tentam se vestir do vel dea'autoridade' são de fato 'ilusões' e/ou formas de opressão e violência. Por quê? Porque se autoconhecendo, percebemos que superior às idiossincrasias, os seres humanos e todos os seres vivos possuem uma igualdade de valor que coloca-os lado a lado, não sendo a abelha menos importante que o cão nem uma formiga menos importante que o ser humano, pois todos os seres compartilham a imperfeição e a jornada pela evolução espiritual somente possível através do aprendizado fruto da própria reflexão e da experiência com os demais, sejam homens/mulheres ou quaisquer outros seres vivos. Cada um de nós possui ensinamos inestimáveis e também necessita de todos os ensinamentos que os outros possam dar, desde que sejam lições de sinceridade, verdade e sabedoria, não dependendo isto de qualquer distinção social imaginária como as existentes nos sociedades humanas que perduram até hoje. Para que qualquer 'autoridade' externa (toda ela sendo falsa) possa de fato influir sobre a vida, as decisões e o pensamento de outrem, é necessário que este não tenha consciência de si, para então, sentir-se vazio o suficiente para permitir que uma decisão que não foi sua encaminhe suas ações. E somente quando os seres humanos, desconhecendo-se a si mesmos, seu valor e, consequentemente o valor de todos, o que pode ser denominado puramente de respeito, é que eles precisam se apegar à doutrinas e sistemas de valores (religiões) que os obrigam a tomar atitudes que não passam de mecanizações do espírito, aprisionando-o em preceitos fabricados e estáticos, enquanto a verdadeira sabedoria é dinâmica, crescente, criativa e autoconsciente.
.
.
.
(Frosti - Björk - uma música)

3 comentários:

Ralph Wüf disse...

Interessante o texto, embora ainda use da dicotomia platônica de alma/ espírito e corpo, é bem interessante, tem uma crítica analítica bem feita, ainda que com notas narrativas. Estou ainda lendo os outros textos, mas sim, bom.
Ah, é! Obrigada pelo comentário e principalmente, pela leitura.

P.S.: Posso manter contato?

Pequen(A)mar disse...

certamente.

seu blog é uma excelente leitura.

Grande abraço,

Samis disse...

e pq vc não posta mais, ein?