segunda-feira, 2 de abril de 2012

Liromar


Morri.


Nasci.

No mar me criei, no mar floresci, no mar andei, no mar senti.
Não estou separado,
não é meu pé e a onda...
Não são coisas diferentes a areia e meus dedos...
Não existe fronteira entre água, sal e sangue...
Tudo é...

Quem sou eu? Como me chamo? Mar...
Onde estou? De onde vim? Mar...
Para onde vou? O que é? Mar...
O que existe, o que não? Mar...

O Eu morri. Não há mais Eu. Existo. Existe. O todo, o tudo.
Sou, apenas... mais nada... E se nada, de ninguém...
Não sou meu, não sou nada...
Logo, nunca uma posse
Não me posso dar, não há escolha...
Simplesmente dou, para ser
Um infinito grão de areia
No sem fim de perder a vista
Simples parte, simples todo
Junto e indissociado


IV

Adormece o teu corpo com a música da vida.
Encanta-te.
Esquece-te.
Tem por volúpia a dispersão.
Não queiras ser tu.
Quere ser a alma infinita de tudo.
Troca o teu curto sonho humano
Pelo sonho imortal.
O único.
Vence a miséria de ter medo.
Troca-te pelo Desconhecido.
Não vês, então, que ele é maior?
Não vês que ele não tem fim?
Não vês que ele és tu mesmo?
Tu que andas esquecido de ti?*

*verso-base: Tu que te esqueceste de ti?

Cânticos
Cecília Meireles


Uma música - Famous Last Words - My Chemical Romance

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