quinta-feira, 19 de abril de 2012

Não sou o que contam de mim...


Não é tão fácil partir. Não é tão insensível deixar. Não é tão indolor quanto parece. Não há nada que não doa. A fome dói, a cama dói, o ar dói. Apagar da superfície, como aquelas pegadas na areia que somem, rápidas, fugazes... é simples. Mas guardar tudo, aquilo tudo, tudo aquilo, tanto e muito, nos devidos lugares, organizados, compreendidos, desprendidos, é um trabalho um pouco mais demorado.

Nos caminhos do mundo, passando na janela, na noite lá fora, de estrelas torcidas, das luzes pequenas, amarelas e velhas, das cidades perdidas, ruidas e desertas... Percorro-me inteiro, indo e vindo, vou e volto, abro e fecho... respiro... refresco... deixo arejar... Há muita sensação para desacostumar...

Vivo... e esta chama viva azula, avermelha, chamusca, bruxuleia...

Lembrei-me aquela noite, em que percebi uma muralha que se erguia: perdê-la seria para mim, naquele momento, o nunca mais entregar, nunca mais me dar, nunca mais dizer-me, nunca mais deixa-me, nunca mais cair-me... senti essas pedras no meu peito... Senti essa corrente me arrastando... senti esse abismo me abraçando... e transbordei... derramei... me derramei... me afastei... No balanço chorei essa perda... sofri o futuro... deslizei a parede abaixo... e fui embora.

Não quis. Não quero. Essas paredes, esses tijolos, esse concreto. Fui embora. Daquele dia em diante compreendi melhor... "o fim é inevitável"... E não o procurei. Vivi cada momento, dei-me a cada momento... cuidei de cada momento... estive em cada momento... Mas, aprendi a deixar ir...

Naquela manhã insone... de filme que percorreu eras... de desconsolo, de perda...

No dia seguinte... na minha praia... no meu lugar... onde sou mais que em qualquer outro... Nos separamos. Ela correu. Eu corri. Ela parou. Eu não. Ela não veio. Deitou. Eu fui. Entrei na água. Fria. Delícia. Plena. Imensa. Ao voltar, querendo abraçar... procuro. Não acho. Procuro. Não acho. Procuro. Não acho. Procuro. Não acho! Sumiu! Sumiu! Sem nada, pra onde?! Será que o pior aconteceu?! Desespero! Não vejo, meus olhos estão salinos, pergundo, procuro, enlouqueço... quando atravesso a rua em busca de ajuda, a vejo. Lá. Querendo matar-me parando o coração. Foste embora. Foste embora. Novamente. Ódio. Dor. Raiva. Como deixas-me assim, louco, sem saber, pensando ter acontecido o pior, eu que sempre penso o pior... Escondeu-se na esquina, mentiu dizendo ver-me, mentira. Sumiu. Fugiu. Morri, morreu. E naquele instante, nunca mais irias voltar ali. Nunca mais iria te levar... marcou-me a ferro a dor e o desespero...

Muitas quebras, muitas pedras, muitas eras...

Vivo... vivo mais. Liberto. Desperto. Aberto.

Uma música - Guaranteed - Eddi Vadder - Into the Wild

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