Por que calcular os anos que passaram? De nada serve. Preferível contar os que ainda restam - já dizia Rubem Alves. Vinte e um anos pela frente (talvez alguns meses a menos para não entrar no 'enta'). A menos que algo aborte os dias futuros - o que é sempre possível. O passado serve talvez para uma coisa - além do mais óbvio, aprender com os erros - que é nos dar matéria prima para escrever. Poderia alguém escrever um belo conto sem ter lembranças? Que poema sairia do coração de alguém sem passado? Bem, não importa, depois que criaram a televisão, memórias próprias se tornaram dispensáveis para alguns. Quanto ao futuro, do pouco mais de duas décadas que me restam, metade já preenchi com planos, idéias, sonhos tão precisos que posso vê-los de olhos fechados e sei mais ou menos que passos dar até eles. Mas, surpreendente é poder colocar nessa receita de minha própria vida ingredientes novos para reforçar os sabores e garantir toques extras de emoção, prazer e aprendizado (?). Por exemplo, ontem, sentado na janela do ônibus vi no mato um pássaro. Ele levantou vôo na mesma direção em que seguia o transporte e por alguns segundos acompanhou nossa velocidade (aparentemente), o que deu a impressão visual de vê-lo flutuar. Pude observar os detalhes de sua desenvoltura aérea quase em câmera lenta. Que elegância e graça e perfeição o ato de voar - como aquelas asas negras ágeis conseguiam facilmente erguer aquela forma de anjo? Naquele instante despertou em mim a convicção de que preciso aprender a voar antes de terminarem meus dias. Preciso, de alguma forma, viver essa experiência e irei, agora tenho certeza - porque os sonhos que encucam na minha cabeça mais dia, menos dia acontecem. Desde que li pela primeira vez um livro preto com uma pena graciosa na capa a respeito de um aviador intinerante que vagava pelo país (estrangeiro) com seu monomotor, vivendo exclusivamente de passeios aéreos em campos de trigo nas cidadezinhas do interior, comecei a sonhar - de brincadeira - com isso. Ah, como seria bom uma vida assim, errar pelo mundo sem destino certo, apenas seguir os instrumentos e a intuição, em buscar de qualquer coisa ou coisa nenhuma. Agora sei, em algum lugar lá na frente serei eu lá em cima - e terei a oportunidade de pular também. Quem sabe não terminem assim meus dias.
(Automatic Stop - Strokes - uma música)
(Automatic Stop - Strokes - uma música)
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