quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Trupe

(Foto: Tropa Trupe)

O que precisamos é de magia, nada mais! Que seja tudo além, tudo maior, tudo inexprimível, mágico! Que a tenda seja alta e colorida, que os cordões de lâmpadas atravessem os gramados, que a fogueira queime sem pesar e as conversas abarrotem o exterior com intensidade, que as crianças brinquem com invejável despreocupação com o olhar alheio e façam estrelinhas e dancem ao som de uma música sem igual, que o cheiro de pipoca transcenda (ainda que eu não goste do sabor) e que as barracas de artesanato nos surpreenda e alegre com o que procuramos e achamos, que a espera pelo espetáculo seja preenchida de bons pensamentos e imagens de fantasia, algumas páginas de um livro e fotografias, que os encontros fugazes tenham qualquer valia e finalmente, possamos entrar felizes, subir as tábuas madeiriças feitas de arquibancadas e rir com nostalgia. Sim! Rir do agora e do passado, pois é tudo uma piada, rir do inusitado, que seja tudo engraçado. Rir sem contenção, sem medo, sem ironia, simplesmente, por qualquer pilhéria. Eu ri do isolamento de todos (de mim), ri das paredes do destino, ri das impossibilidades do nada, das infelicidades da mágica. Fiquei maravilhado com as danças, no palco observava atento aqueles corpos voando, se chocando, se abraçando, harmônicos e graciosos, formando imagens e cadências, ritmos e efervecências, acrobacias indescritíveis. Além, subiam pelo céu em tecidos azuis e negros dois corpos sem medo de se fundirem em si e ao chão, feminino e masculino agarrados no ar, entrelaçados pelas formas que rodopiavam por seus corpos e fazia-os girar. Os malabares vagalúmicos dançavam velozmente na escuridão, cortando as trevas com luzes vermelhas, azuis, multicor, pulos de surpresa, quedas desajeitadas, gargalhadas. A tela mágica arrancou sorrisos de romance e disputa gracejosa pelo coração da amada imaginária e o domador de macacos tirou truques do chicote e acabou dominado por seu rebelde companheiro. Boquiaberto vi atravessar a corda bamba o palhaço, dois metros sobre nossas cabeças e tudo era belo e tudo era infinito, até o fragmento de meninas, seus trechos de peça, suas histórias juvenis, vozes magnéticas... Era a casa da magia, era o mundo do além, vou voltar sempre, quero somente rir.

Nenhum comentário: