terça-feira, 13 de outubro de 2009

Dor-mir (guerra e paz)

Sempre admirei as pessoas que a mim pareciam autosuficientes, independentes, que iam aonde queriam, mesmo que não houvesse companhia, e sem pestanejar, sem pudor da própria solidão. Aos quinze era meu ideal, não precisar, não depender, não carecer. "Você nunca estará sozinho se gostar da pessoa com quem está quando se está sozinho" - eu admirava. Depois, algumas venturas me fizeram voltar, desacreditar ser possível tal isolamento. Eu tendia ao extremo de ver a autonomia com um total afastamento, já que 'os outros' não me pareciam próximos. Mas quando percebi que o encontro podia ser real, tomei que "a felicidade só é verdadeira se compartilhada". Porém, como as verdades só se mantêm até descobrirmos algo novo, hoje já não me fio demasiado nesse ponto de vista. Pude ver um outro lado o qual só conhecia através da visão oposta e percebi o que significa querer estar longe. Quis estar só, vivi o silêncio da minha própria distância, percebi o frio que eu fazia sentir (e não em mim) e descobri como é andar quase se esgueirando, para que se visse menos ou não me vissem. Ninguém nos completa, talvez seja a nova verdade. Podemos aprender, sim, como nos completar ou novas formas de organizar nossas completudes, de se expandir com as vicissitudes, colecionar outras maneiras de agir. Mas, se for assim, eu não preciso mesmo de você, mas posso querer estar contigo ou com ela ou com outra pessoa mais, alguém. E depois não, acabou. Cansei. Fui-me um pouco, posso voltar. Não encontrei? Faço algo novo. Assim, espontâneo, circunstancial. "Minha inconstância é sabida de mim mesmo" - eu rabisquei na capa de trás de um caderno antigo. Eu sempre soube. Talvez possa ser constante em poucas coisas, mas confesso que me soará mecânico e falso... gosto do novo? É fato. Que desafio! Eu mesmo me vejo envelhecer, que deixo de ser novo por vários momentos, dias, semanas... como poderia, afinal, olhar-me sempre no espelho e não ver algo do passado? E como, então, querer sempre o novo? Querer encontrar algo interessante e desconhecido? Com que rigorosidade ansiar por isso? Não, não se trata de rigor... nem de exagero... O amor é a trilha que atravessa a oscilação e segura em nossa mão e isso basta. Mas não é tão simples. E eu já não gosto de simplicidade, quero algo complicado, complexo, difícil, estimulante. Surge ainda outra preocupação - o que torna alguém interessante ao ponto de despertar sentimentos mais profundos? O que me é interessante? Quantidades exorbitantes de livros, músicas e filmes? Ou ao menos um desses? Tão comum... algo para passar o tempo, fazer comentários, trocar impressões... Ou então uma sensação sedutora de estranhamento, um desconhecido atraente, mágico? E ainda a imprescindível afinidade de pensamentos, encontro de perguntas e respostas, contrastes de gostos e sabores deliciosos? Algo disso, algo de outras coisas também. Há muito tempo carrego comigo a ânsia de tornar a vida interessante, aproveitar o tempo, conhecer o que houver para conhecer e assim, deixar iscas na superfície supostamente límpida que atraiam alguém. E quando estamos cansados? E quando se deseja apenas parar um pouco, descansar no ombro, fechar os olhos, segurar na mão? A névoa de interesse se dissipa, percebemos a velhice de todos e de nós mesmos e vemos partir o ombro querido? Não há mais interesse? Vivo aprendendo. Não consigo viver nada sem perceber o que aprendi... e talvez seja essa a razão de achar que aconteceu para o bem, porque se de outra forma fosse, não teria aprendido. Mas, como cada resposta traz no mínimo duas outras perguntas, coleciono-as. Primeiro, existe na minha e em outras índoles essa necessidade de afastamento inegável, sim. Porém, será que ela pode ser temporária? Será que a pessoa pensa (ou sente) - "preciso de um tempo para mim agora, mas volto"... Existerá mesmo isso? Por que tendo para o extremo, sempre. Foi embora? Arranco de mim seu afeto, acabo. Não quero o que não tenho, ao menos me forço. E não volto. E se ela volta? Sempre me pergunto. E eu também me afasto e questiono se a pessoa deveria ficar esperando, que direito eu tenho de pedir-lhe para esperar (sem pedir)... e se eu gostaria mesmo de que esperasse... talvez fosse melhor que ela caminhasse por outros caminhos (e eu não acredito em reencontros). Como fica? E descobri que não suporto carências excessivas... e censuro-me quando me sinto assim. Ah, não se arraste em mim como um ser abandonado... é triste e nada bonito. Uma orfandade de si mesmo que não suporto. Encontre-se, seja sem mim porque eu sou sem você. É o que tenho aprendido, não podemos carecer de ninguém e que ninguém careça de mim. E confesso que meu coração se confunde, este "pródigo coitado", mas hei de descobrir a medida. Então? Autosuficiente 'doa-dor' que não se gasta em expectativas e vive tão somente o que se apresenta ou se planeja? E quanto às expectativas que se geram sobre nós, o que fazer? Evitá-las ou ignorá-las ou deixar que surjam sem se preocupar? Contanto que se tenha coragem para frustar, talvez não se possa evitar. Não sei, vou passar um tempo sem elas também. Sobrevoar as turbulências e senti-las sem juízo, divagar por mundos inventados, deixar-me arrastar pelo acaso da surpresa, uma caixinha de surpresas. O que achas? Concordas? Não me tenhas por certo, eu sou amigo da incerteza, minhas amizades são todas subjetividades. E não me procure, lance uma mão perdida na escuridão da vida e talvez assim me encontre, enquanto eu estiver me encontrando - interrupção? Não pararei mais, iremos caminhar juntos, enquanto quiseres, enquanto eu quiser... querer é poder? Apenas quando estamos dispostos ao que vier. Venha destino,"pro que der e vier, comigo..."

3 comentários:

Fernandes disse...

As pessoas se completam sim, e isso é tão claro...

di disse...

Isso geraria uma boa conversa.

Bel disse...

Eu entendi tudo.