sábado, 11 de julho de 2009

"Clareia minha vida, amor, no olhar..."


"Pois é"


Os sininhos se dobravam enquanto a brisa esbarrava neles, com gotinhas de água caindo do céu, naquela varanda friinha, aquele piso branco e as paredes lavadas pelo tempo. A grama suspirava saudade de pés fofinhos para pisá-la, acariciá-la. Queria corpos deitados, olhando o céu azul e branco, queria cabelos emaramanhados, jogados entre as finas folhas de verde claro. A sombra da mangueira também queria alguém para proteger e o balanço esperava duas pernas ágeis para nele voar. Os passarinhos ansiavam por ela, para que saisse de baixo do cobertor e então cantar pra ela. Não ousavam recitar nenhuma nota antes daqueles dois sóis disfarçados de olhos levantarem-se para o mundo e lavarem o céu e as nuvens. Eles aguardavam quietos, pesinhos unidos no galho mais próximo da janela, olhando-a. Invejando o rapaz que a abraçava, ah, como os pássaros o invejavam. Eles invejavam o amante daquela beleza que a natureza criara, aquele corpo e rosto e pele e lábios exageradamente belos. A única canção era a dos sininhos na varanda vazia. Uma sensação de conforto no ar, uma vontade de ser eterno, uma sensação de plenitude e cumplicidade envolvia os dois. Não, não tinham vontade de se levantar. A cama estava branca e brilhante com a luz da aurora que passeava pela janela. As paredes cor de orvalho e cidreira quase exalavam o perfume da tranquilidade e a mesinha de madeira simples e delicada se espriguiçava ao lado da cama, enquanto aqueles dois deslizavam um sobre o outro. Uma maçã e um copo de água resfriado pelo vento frio bastava àquelas almas plenas em si mesmas, unidas, acaricidadas, porém insaciáveis. Precisavam estar e ser... Olhar o céu, os pássaros, o horizonte lá fora. "Só mais 5, 10 minutinhos e eu me levanto", ele sussurou, mentindo. Não levantaria nem nas próximas horas, mas isso a fazia rir. Ela conhecia todas as brincadeirinhas da voz suave dele. Ela entendia cada mínimo movimento de suas sobrancelhas negras e ele já sabia o que ela ia dizer ou fazer (um maravilhoso e angelical suspiro). Eternamente podiam estar ali. "Vamos ficar assim pra sempre?", ele disse, abraçando-a. Ela riu e concordou. Iriam, jamais se separariam enquanto o vento soprasse, a música tocasse em suas almas, a luz iluminasse todos os cantos.
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(Pois é - Los Hermanos)

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