sábado, 11 de julho de 2009

O Velho e o Moço


Não sei que idade eu tenho nem sei que horas são. Não tenho medo do escuro, só não gosto da solidão. Eu não tenho nenhum destino ainda que não duvide da ilusão que é esperar chegar onde não há como chegar. Se a rua está vazia e qualquer presença parecer uma ameaça, bem, não adianta se esconder, basta caminhar e viver. Se os passos correm o risco de ser uma queda, não irei ter medo, não irei parar. "Eu gosto é do estrago". Que seja, que doa, que chova, que molhe, que esfrie, que escureça. Há de ser bom enfrentar tudo e sobreviver. Há de ser bom sangrar para rir da cicatriz. Contar a história como se fosse um conto de fadas ou uma aventura imaginada. E os medos e erros que eu cometer? Ah, cometi tantos já. Só posso dizer que tudo foi para o melhor. Sofrer foi bom, aprendi pacas. Chorar e achar que a vida não merecia passar dos vinte e um, olhar o reflexo na parede e pensar na tristeza de existir. Amores para realizar? Por muito tempo eu corri atrás como um saxofone em busca da madrugada, um chorinho na esquina do beco escuro, um sedento procurando o último gole. E aquela secura na minha garganta diante do mirante do mar, das árvores levadas pelo vento, da imensidão maior que eu muito, lembrava-me que a procura continuava. Encontrar é realmente o inusitado, o sentimento estranho, o grão de areia na ostra solitária que esperava o amor e encontrou a pérola. O que fazer após o exagero da madrugada, a ressaca dos sentimentos? Trezentos e sessenta e cinco dias parecem imensos, mas voam leves como bolhas de sabão sopradas por um mímico na festa de um circo intinerante cheio de mágicas e maravilhas. O domador de feras imaginárias no centro do picadeiro surpreende pelo número incomum de risos e sedas. Mas fora da minha mente o mundo é uma praça e um banco, um tronco morto caído no meio do caminho com cogumelos fantásticos brotando das veias. Talvez eu seja aquele passarinho cinza com penas vermelhas na cauda que pousa sobre a madeira oca em busca de alimento e companhia. Ou ainda posso ser o vira lata de manchas roxas e orelhas caídas que caminha pelas ruelas esperando amanhecer. Meu eu antigo e meu recente conversam e brincam, como se trocassem de papéis. Eu me sento no banquinho de madeira cinza e "converso com os séculos a história do universo".
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