(no cinema)
...E durante as conversas de casal, as recordações, o momento final, fiquei pensando... quais são as histórias que contam sobre nós (cada um de nós)? Porque todos têm essa mania/necessidade - ou então conhecer alguém traz essa obrigação - de contar nossas vidas - dezenas de vezes. Já estou farto, mas ainda narrarei cada amor e história e experiência tantas vezes. E o que contam de nós? Que versão, qual lado, que detalhes são lembrados? Será que se conta todos os males, tudo que irritava, os motivos para os fins, os pontos dos is? Ou o que foi bom? Não imagino se contar para o novo amor tudo que era feliz no último. Às vezes é melhor nem mesmo contar, mas é inevitável (ou não?). Vim sentar na mesma mesa que ficamos, aquele canto de vidro. Só para marcar na lembrança, só isso. Por exemplo, do primeiro amor a lição que ficou foi "não se pode demorar". Do segundo aprendi a "não me precipitar". E agora? Da primeira namorada eu lembro que eu exagerava... cheguei até a comparar com flor de papoula, dizia que era meu ópio, no bom sentido... não era tão assim... mas o desenho que fiz ficou bonito. É, quem bebe acaba com o fígado, eu, vou acabar com meu pâncreas, de tanto açúcar no sangue... Chocolate gelado é tão maravilhoso! Êxtase. Chegamos a nos preocupar com a impressão que estamos causando? Parece até uma vaidade querer saber em que parte da lembrança estamos guardados. E se eu for sinônimo de ruína? Ou de constrangimento? Como ser lembrado com alegria?... Como passamos pela vida das pessoas?... Não sei, só sei que passamos, passam... passa. Passado(s). Eu fico (aqui)... (lá)... (mais ali)... É bom sair sozinho, rir quando nos identificamos com a vida na tela... apenas o fim... é, o fim é sempre o início (do próximo fim). E viver não passa de um trabalho artesanal... artesão de lembranças.
Um comentário:
Meu pâncreas deve estar enjoado também.
Bom texto.
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