Crianças não deveriam vir ao mundo. Nenhuma delas devia transpassar o túnel viscoso e estreito da vida, afinal, seguem a contramão desta fisiologia e ofendem-na e por isso são condenados com esta bendita vida. Afinal, que vêm fazer aqui nesta terra desolada pelos homens (e mulheres)? Nós não temos qualquer propósito em viver e gerar vidas talvez não passe de um terrível engano da criação, ou mesmo um castigo disfarçado de crime em nossas mãos. Comecemos pelo princípio. Uma criança vem ao mundo e precisa de atenção e cuidado, educação, para se tornar um ser humano - de verdade, e não só um modelo de carne. Mas, quem neste mundo está habilitado para educar uma criança, se ninguém recebeu a tal apropriadamente? Cada geração é um fruto deformado da geração anterior, que era sucessivamente mais atrasada e estúpida. Os pais, escondidos atrás do "errar é humano", aproveitam-se para cometerem todos os erros imagináveis (e outros mais) com essas folhas virgens, regando-as com violências, loucuras, insânias, incompreensões e gritos, influências de toda natureza, degenerando e traumatizando. Mesmo os casais mais comportados dão seus exemplos de insensibilidade e desafeto, ou ao menos criam ingenuidades frágeis como porcelana, nada adaptáveis à selva de pedra e cédula. Podem ser fabricados pivetes sádicos e desonestos, criaturas tímidas e anti-sociais, espécimes extrovertidas e mau-caráter, estilos moralistas, perfeccionistas e arrogantes ou tipos passivos e submissos, ainda misturas e variações e extremos e pervesões de toda sorte. É, é realmente um ofício sagrado destruir uma criança, salve a maternidade e a paternidade! E, veja só, não estou sendo ingrato, de todas, eu acredito que eu tenha sido privilegiado em minha criação, afinal, não me envergonho de quem eu sou, mas, reconheço, descobri que viver é algo abominável e, mesmo na minha persistência, não aconselho para alma nenhuma. (riso!) Certo. A pura verdade é que não quero carregar a culpa por vida nenhuma além da minha. Se possível, preferiria que nascéssemos espontaneamente, caíssemos do céu, brotássemos como água mineral ou ainda que fóssemos filhos dos animais, lobos, coelhos, tigres, elefantes. Puramente instintivos, talvez eles sejam mais autenticamente pais e mães do que nós humanos. Já que de viver não podemos nos livrar, alguma solução melhor poderia haver. Mas, continuando. A primeira educação já está arruinada. Não nos enganemos, por trás de uma infância aparentemente perfeita existem mil e um traumas encarcerados no subconsciente, seja um balão que não foi dado no circo ou um 'não' seguido de um olhar ameaçador ou uma revista masculina mostrada a uma cabecinha infantil. Depois jogam-se os filhos nas masmorras do Carandiru, digo, na escola. E veja como é o sistema, não por o filho na escola e tentar qualquer alternativa caseira ou revolucionária, o que for, é proibido! Prendem os pais! É preciso destruir o Estado antes de termos filhos. Então, paramos no chão sujo do calabouço de aula, com pessoas ensinando ratoeiras e grilhões e crianças se transformando em ratos. Lá se aprende todas as coisas pifias, vis e emburrecedoras que alguém precisa engolir para aceitar o mundo do jeito que é com facilidade, cortam-se suas línguas para que nunca ousem questionar e colocam no lugar matracas ensurdecedoras para coibir pensamentos. Como se não bastassem, ainda existem os coleguinhas. Um traumatizado pertuba muita gente, dois traumatizados pertubam muito mais... Imagine uma escola! Cheia de crianças e adolescentes e outras fábricas de desgraças? Ensinam uns aos outros tudo, de palavrões (bons aprendizados) à pilantragens (maus aprendizados), só não aprendem a construir qualquer coisa que seja - destruir lhes parece mais divertido (e talvez o seja, mas e se ninguém tivesse construído nada para eles destruirem, o que fariam?). Bem, vão se desenvolvendo (?), começam a brincar de amor - ou paixão ou, para os mais realistas, sexo. Aperfeiçoam a arte sutil (vista pela primeira vez provalmente com os pais ou coleguinhas) de magoar. Nossa, e como podem praticar nessa fase. Os que não magoam (ou não têm essa intenção), são forçados a aprender a contra-arte, serem magoados. E assim seguem mais alguns anos, onde vão descobrindo os verdadeiros significados de palavras como 'ilusão', '(des)esperança', 'paixão', 'frustação', 'sentido', 'razão', 'tristeza'. Então os alguéns que os cercavam e os meteram na frente da televisão por horas, fritando suas cabeças, decide perguntar-lhes - "e aí, depois de tantas coisas que você 'aprendeu', o que você vai ser?" - Só que em todos esses anos só aprenderam a ter, ter, ter, querer, querer, querer, destruir, desfrutar. Que palavra capciosa é essa de "ser"? Bem, 'ser' não é algo estimulado no nosso mundo, não é? Enfim, passemos essa confusão generalizada, pânico coletivo, explosão de loucuras juvenis que se jogam nos seus braços quando precisam escolher seus caminhos. Resultado, somos todos pessoas individualistas em última instância, cansadas demais com nossas vidas para transformar a realidade e, cedo ou tarde, os que acreditam simplesmente param de acreditar. E tudo começou como? Com esse pequeno-grande crime que foi gerar uma criança. Ah, não, eu não parei de acreditar - e me permita o sol (estrela combustível) que eu nunca páre, por mais que cesse temporariamente (como agora), mas ainda assim, prefiro tentar mudar o mundo antes de sacrificar uma nova vida - prefiro sacrificar a minha - e sei que não nasci para proliferar meu sangue, quero ao menos evitar que sangue seja derramado. Queria também poder evitar que tanto sangue corresse nas veias, porque ele carrega tanta dor e tristeza, às vezes, que sinto-me afogado. Queria. Espero conseguir seguir esse destino, destruir-me (construindo) para dar vida à novas flores e poder ter amor nesse caminho.
sábado, 26 de setembro de 2009
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Um comentário:
Nunca gostei de humanos.
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