sexta-feira, 25 de setembro de 2009

"tão curto o amor, tão longo o esquecimento..."

É, exatamente como eu temia, mas nesse ponto da estrada, eu não quero resistir. Tenho me entregue à tentativa de não-pensar, ocupar minha mente - principalmente com música. Como anos atrás, dificilmente saio na rua sem ensurdecer-me dos ruidos externos e internos com uma canção qualquer - ou aquela mesma melodia repetida. Hoje pela manhã algo bem pesado, agitado, resquício da noite passada, e, afoito, ultrapassando minha própria trincheira, pensei a respeito - "estou tentando não pensar". Porque agora pensar dói, me dói demasiadamente. Os pensamentos não são como os pés, obedientes, são pássaros que não estão em nossas mãos, sempre voando e não posso evitar que eles pousem no teu colo, amor, a menos que eu não pense. Que crueldade, faço da música uma gaiola, grades sonoras, quero abafar até o canto dessas aves epidêmicas. Meu mal é que só coisas simples são suficientemente fortes para me salvar - nada de projetos, reuniões ou ideais - isso só me cansa, e cansado, caio na sarjeta da tristeza. Quero livros leves, romances, poemas, vozes femininas belas, fotos de janelas, praias, filmes, sagrados instantes, simplicidade. É o que preciso... e não sei quando vou sair daqui. Encarcero-me por necessidade minha, ou melhor, abrigo-me. Não é grande sinal de liberdade estar ao relento, no frio e no escuro, prefiro ter minhas paredes apertadas agora, onde o calor de meu corpo pode rebater e voltar, me autoaquecer, é preciso tentar. Por esses dias lembrei-me d´uma ironia - elas me perseguem, escondem-se debaixo da minha pele. A penúltima carta que escrevi p´ra ela dizia "finalmente estamos simplesmente felizes, paz e tranquilidade", algo assim. "Ai uma jaula!" (literal - hoje já tenho) - que diabos. Foi um dia antes da morte, uma sexta feira, escrita n´uma mesinha verde escuro no meio fio, ouvindo flauta e violão do bar ao lado, aquela carta era feliz. Premonição invertida? "É tão curto o amor, tão longo o esquecimento..." disse meu querido chileno. Também para ler falta-me ânimo... só escrever conforta. Não consigo mais carregar coisa nenhuma, deixo cair tudo das costas, dos ombros, dos braços, do rosto, do peito... cai tudo na folha, nas letras brancas no preto da máquina de escrever eletrônica. Mas amanhã hei de buscar outras filosofias, descobrir mais sobre elas, mais um entreterimento, e quem sabe após, um palco, algo ensaiado. Bem, antes eu acreditava que tudo podia ou devia ser racionalizado. Tomei ódio disso, mas, quero agora fazer esse exercício. Racionalizemos. (irmã de racionar - restringir, limitar a necessidade em tempos de escasses): Primeiramente entendo que acontece. Que é quase natural de certas pessoas, inclusive eu. O amor talvez seja uma escultura de barro e flores, orvalho, coisas inanimadas, que magicamente ganha vida, fruto d´um feitiço poderoso chamado afinidade, identificação, afeto. O calor inicialmente fortalece a massa, enrijece, torna-a tangível, mas depois, excessivo, racha-lhe as arestas, corroe-lhe o centro, parte-se. Esmigalhado, jaz no chão, um pouco mais a frente de onde tínhamos começado, mas com uma grande sensação de similaridade. Bem, alguém se irritou, pegou essa obra e jogou no chão. Desculpa, era um coração. Não, não foi irritação, não sei, não sei. Prefiro não pensar. Mas não é isso que estou fazendo agora, comecei, deixe-me enforcar. Enfim, veio na memória aquele jogo da forca na mesinha redonda no canto de vidro seu e meu. Faltavam-nos palavras, era preciso improvisar. Tínhamos tomado sorvete, esperamos pela hora. Palavras óbvias, acertos fáceis. Nos primeiros dias... havia muito carinho. Não importa. Balanço minhas pernas, sentado na beira do penhasco. Olho a imensidão, mais imensa sem ela, e esforço-me para não ver o tempo passar, para quando acordar, eu ser qualquer outro e encontrar tudo novo.

Ah, e preciso contar, A Ponte para o Sempre também foi demolida.


(Eu sempre avisei - Dois em um - uma música)

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